Maior mérito do técnico do Bahia é não ser retranqueiro

Primeiro, um detalhe  ainda acerca do jogo Bahia 0 x 1 Flamengo a torcida na Arena Fonte nova não gritou “time sem vergonha”, gritou “CBF sem vergonha”, se alguém gritou “time sem vergonha”‘ foi uma minoria, tanto que, de onde eu estava (oeste), sequer pude ouvir.

Concordo que o Bahia de Jorginho mudou, mas discordo que seja pra um time tão ruim quanto o que os resultados frios tendem a mostrar. Jorginho não é um cara retranqueiro, isso se provou contra o Palmeiras, quando ele quis sair pra jogar contra o melhor elenco do Brasil e tomou 4, e contra o Corinthians, quando ele também saiu pra jogar contra o líder, um time que joga no erro adversário, e tomou 3. O único jogo “retranqueiro” de Jorginho foi o do Coritiba no primeiro tempo, e, por incrível que pareça, foi o melhor resultado fora de casa! Dito isto vamos ao que mudou. 

Jorginho tenta fazer com o Bahia de Guto, algo que Guto nunca conseguiu, nem fez questão de tentar, tornar o Bahia senhor do jogo, aonde quer que esteja. Guto nunca teve vergonha de dar a bola ao adversário e jogar no contra ataque quando estava ganhando a partida, podia ser na fonte, podia ser fora de casa. Um retrato disse é a série B do ano passado, onde fora o Bahia era um terror, chegou ao cúmulo de jogar com 3 volantes com medo do poderosíssimo Luverdense, e na fonte tomávamos muito calor desnecessário, tomando empates inexplicáveis, como foi nos jogos contra o bragantino e Ceará, por exemplo.


Eu, particularmente, gosto disso. Quero o Bahia grande, impondo seu ritmo. Mas querer não é poder. Isso tem que ser feito com clareza e inteligência. Não é contra todo mundo que Jorginho poderá usar deste subterfúgio. Num jogo como o de domingo, contra o Flamengo, o Bahia estava bem da maneira que estava, tentando impor sua velocidade e se fechando quando necessário. Havia transição rápida, como o time de Guto, havia marcação alta (roubamos duas bolas no campo de ataque com condição de gol, uma delas, inclusive, foi roubada na ultima linha deles), havia paciência com a bola no pé, rodava-se a bola, virava-se o jogo (inclusive com erros, como os de Juninho e Sales no primeiro tempo), e o que faltou foi:

1) Maior inteligência no último passe/chute (zé chutou uma bola em que era pra passar, deu uma cavadinha pro Gol em uma bola que podia rolar pra trás, Edigar apostou corrida com Rhodolfo quando podia usar sua habilidade, como fez contra o zag do Atlético do Paraná);

2) Qualidade no material humano (Vinicius substituindo Régis é uma lacuna de qualidade dolorosa pra proposta do Bahia). Isso acarreta em má qualidade na finalização. Já há algum tempo que o Bahia mostra que não consegue chutar de fora da área. Pra proposta de jogo de Jorginho, ter a bola, encurralar o adversário no último terço do campo, esse recurso é fundamental. Contra Corinthians, Grêmio, Flamengo tivemos muito espaço pra executar esse fundamento. Contra o Palmeiras perdemos o jogo justamente com duas bolas muito bem chutadas de fora da área.Também nesse quesito incluímos o despreparo mental de Lucas Fonseca, fator determinante pro resultado da partida.

Quero registrar que não sou fã de Jorginho, ele escala muito mal o time titular, sem um critério entendível para nós que acompanhamos o Bahia há mais tempo (jogo do corinthians com Feijão e Becão nos 11 iniciais, jogo do Palmeiras com Becão novamente, Éder sempre no banco, jogo do Coritiba com Mendoza de titular no meio), mexe mal (régis ontem, apesar de entendível o que ele quis, e não foi apenas retrancar, foi devolver a transição ao Bahia, que havia perdido com o cansaço de Allione e Zé, mas o escolhido se mostrou incapaz de tal papel. Era Armero ou Régis, o original. Abriu o time totalmente contra o Palmeiras, ao tirar um volante e colocar João Paulo. Conseguiu um gol ao acaso, mas sofreu outro, poderia ter sido uma goleada maior), tem um discurso muito passivo e com tons de “desculpa” em momentos em que tudo que é preciso é assumir a responsabilidade e seguir trabalhando. Mas, não é culpa dele a sequência que o Bahia enfrentou.

Em absolutamente 100% dos textos que leio com críticas, analogias, opiniões fervorosamente passionais sobre o momento, plantel, técnico e direção do Bahia, os “analistas” não levam em consideração que o Bahia enfrentou os 4 melhores times do Brasil em sequência, com um intervalo em Coritiba, que naquela altura era o terceiro lugar na tabela. Em manchetes menos envolvidas com a atmosfera baiana, como as do sul, lemos coisas como “Bahia domina Corinthians em boa parte do jogo, finaliza mais, tem mais posse, mas perde o jogo”, “Bahia e Coritiba fazem jogo igual e terminam empatados”, “Bahia joga melhor que flamengo (admitido pelo próprio técnico deles) mas vacilo de Lucas atrapalha o time”, será que um time que performa pra isso é de todo ruim?

Nesse momento precisamos ter SERENIDADE para não jogarmos fora, com essas cobranças passionais, as coisas boas que estão sendo feitas. O Bahia desempenha um futebol organizado, o time tem um esqueleto bem estruturado e o que falta é material humano. Não adianta cobrarmos pressa da diretoria, como muitos pedem (nessa hora brota uma horda de opiniões convenientes, com pouco embasamento mas muita emoção, que, no final das contas, atrapalham o clube mais do que ajudam), e trazer peças como Vinícius e Régis Souza. Não! Levem o tempo que for necessário mas tragam gente pra SOMAR! Tenham como alvo a atuação no meio da série B do ano passado, que renderam nomes como Tiago, Luis Antonio, Eduardo, Renê Jr. É isso que devemos cobrar, pressa pura, não é o que buscamos. É preciso abrir o cofre, o Bahia precisa investir pra se manter, uma queda é gastar muito mais do que investir agora, fica a dica.

Por fim, vale salientar que chegou a hora de provar que o futebol atual é passivo de pontos dentro do nosso grupo competitivo, o famigerado Z11. Das próximas 5 partidas, enfrentaremos 4 times que estavam cotados a brigar pelo rebaixamento contra nós, e um fluminense completamente ganhável numa fonte nova que pode ser fator depois de uma possível boa atuação em um clássico. Que este corredor polonês não destrua o que restou de bom do Bahia de Guto, que Jorginho tenha serenidade pra aprender com os erros passados e se mostre capaz como muito se noticiou no Brasil inteiro na sua chegada, que nós, torcedores, que tanto pedimos a evolução no futebol nacional, regional, possamos evoluir junto e aprender a analisar baseado em razão, deixando a emoção de lado, para não atrapalhar o futuro do nosso clube. E que o Bahia ganhe, afinal de contas, o futebol ainda é um jogo.




Matheus Chaves, torcedor do Bahia e amigo do Blog.

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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