O Sonho das Eleições Diretas na dupla BaVi.

Amigos e amantes do futebol, estamos diante de outra encruzilhada. Nestes caminhos tão tortuosos do mundo da bola, parece que elas se multiplicam. Ainda mais com o crescimento e complexificação da sociedade e da economia… Tudo isto envolto em um ambiente de mudança de valores, de paradigmas, de tecnologias. Nada escapa a este rolo compressor do tempo, a esta imposição que o novo traz para as certezas sedimentadas. Indubitavelmente, o futebol não escaparia a todas estas revoluções.

Há muito tempo nos chegam as notícias dos grandes benefícios que as eleições diretas podem trazer para os clubes. Promessas de grandes transformações, alterações estruturais profundas que nos alavancariam num salto fantástico para o futuro. 

Beleza, estamos salvos!! Agora, “perái”! Como diria o outro, “ tá muito bom pra ser verdade”.


Portanto, é preciso estar atento a alguns detalhes.

Na realidade, é necessário efetuar uma análise mais profunda deste processo. Discutir, verificar e entender melhor suas implicações, seus prós e contras. Esta necessária atitude é importante não só para respaldar a decisão de embarcar neste caminho, mas também para aprender como navegar uma vez iniciado o processo.

Parece evidente que comparado com um passado de quase monarquia vivido durante décadas na administração dos clubes, a eleição direta parece ser o “El dourado”, o porto seguro. Uma vez que, a priori, nada pode ser tão nocivo e nefasto como aqueles anos negros de total falta de transparência e completa e absoluta falta de profissionalismo. Mesmo que algumas glórias tenham sido alcançadas, mostra-se improvável sua manutenção no futuro.

A eleição direta por si só não transforma nada. Não muda a qualidade da administração dos clubes, nem tão pouco aperfeiçoa e moderniza suas estruturas. A eleição direta é somente uma forma de seleção. Ela tão pouco garante a competência, honestidade e lisura dos eleitos. Não impede, também, uma circunstância muito comum na política tradicional: Propaganda enganosa, promessas mirabolantes que nunca são cumpridas. Além disso, ainda há o risco do vale-tudo, manobras e acordos escusos e prejudiciais aos clubes serem feitos somente para garantir a eleição. Alguém aí, por acaso, lembrou da última eleição para a presidência do Brasil?

Outro fator muito importante é não permitir que as campanhas se transformem em um puro e vazio show de marketing (aliás, como em parte ocorreu na eleição do Bahia). Nós já estamos escolados, cansados e muito vacinados contra isto. Haja vista, ser esta a realidade em que se circunscreve a situação política partidária brasileira há algum tempo.

Na verdade, abraçar este novo processo requer uma mudança de comportamento de nós torcedores. Isto se refere não somente ao ato de votar, mas também ao ato de aprofundar o debate na busca de soluções. Se nós temos o voto e, desta forma, o poder, temos que dizer quais os caminhos queremos que nossos clubes sigam. Não podemos nos restringir a simples preenchedores de cédula de votação ou torcedores de candidatos.

Faz-se necessária além de uma boa escolha na hora da eleição, um acompanhamento permanente do cumprimento das promessas e uma avaliação rigorosa do mandato ao final do mesmo. Estas atitudes podem permitir que as eleições diretas tornem-se um ponto de inflexão e um novo caminho para os clubes. Mas, não haverá milagres ou mudanças no curto prazo. Temos que nos acostumar com a ideia do quão longevo será este processo.

No caso recente do Bahia, onde a abertura do clube teve que ser judicializada, um detalhe (dentre tantos) chamou a atenção. O fato do ex-presidente do clube não ter notado que a mudança era inevitável. Ele, por ser o presidente à época, estava na posição de conduzir todo o processo e, com isto, ter chances de ser o 1º presidente eleito do tricolor. Porém, preferiu apostar na continuidade do sistema e, ao final, foi alijado do processo. Imagino que quem detém um cargo desse vulto deve supor obrigatório construir o clube pensando no futuro. Não somente através de mudanças físicas, mas de transformações estruturais, legais, regimentais que possam deixar um importante legado, uma perspectiva de crescimento e desenvolvimento para o futuro.

No caso do Vitória, devido à grande resistência de muitos em abrir o clube, parece que o exemplo do Bahia não foi bem observado ou entendido. Não se trata de optar pela implementação de eleições diretas, mas de como formatá-la, realiza-la. Pois, quem se opor terá o mesmo destino do ex-presidente do Bahia. Ficará para trás e alijado do processo. Mais uma vez, percebe-se que é melhor unir o clube em torno da discussão da abertura do mesmo que se opor e se isolar. Com um agravante, percebe-se, no caso do Vitória, a intenção de impedir a possibilidade de um certo ex-presidente voltar ao clube. Porém, é mais plausível criar um processo de seleção de candidatos mais rigoroso que, ingenuamente, acreditar que ele nunca acontecerá.

Entendo a grande utopia do que proponho. Acredito poder enxergar as dificuldades e a grande mudança cultural que isto requer. Suponho também que cada torcedor verá muitas outras dificuldades e oportunidades neste processo. Mas, o novo geralmente não chega sem causar turbulências. Quando estruturas antigas, retrógadas começam a ruir para o surgimento de novas, existirá dor e sofrimento, tumulto e bafafá. Quer moleza, painho?

De qualquer forma, O que seríamos de nós sem sonhos e utopias?

Sds, Rubro-negras.

Filba – Torcedor do Vitória e amigo do BLOG 

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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