Ex-goleiro do Bahia Renê deixa Salvador

Matéria publicada na manha desta quinta-feira (17/2) pelo jornal A Tarde. Entretanto como o jornal sofre constantes interrupções no seu site desde último sábado, decidir trazer a matéria para dentro do BLOG, fugindo do hábito de postar o conteúdo do jornal na lateral do BLOG.

A fisionomia alegre, comum no dia a dia, deu lugar ao semblante carregado, triste. Nesta quarta-feira, 16, em entrevista exclusiva ao A TARDE, o goleiro Renê, ex-Bahia, revelou que por cinco meses tentou protelar a despedida da capital baiana. Não deu.

Motivos pessoais, dentre eles, dificuldades financeiras, forçaram o retorno do “Paredão” à cidade de Itajaí, em Santa Catarina – terra natal da esposa Natália e local onde possui uma casa. A viagem está marcada para esta sexta-feira.

Carro e bagagens já foram despachados. Há a esperança de voltar a defender o clube que, agora, considera “de coração”. Sempre confiante, crê que o Bahia ainda possa reduzir a pena de um ano – iniciada desde o dia 19 de outubro de 2010 -, pelo uso do diurético furosemida, presente no remédio Lasix, que é utilizado para controle de hipertensão. Caso isso não ocorra, revela: não saberá o que fazer daqui para frente da carreira e da vida.

Cinco meses parado, longe dos gramados. Como é o dia a dia de Renê? O que se passa pela cabeça?

Cara… (pausa por uns instantes) São os piores dias da minha vida, sem dúvidas. A pior coisa é você fazer uma mudança, quando você não quer mudar. São cinco meses de sofrimento. Nada se resolve, não tenho promessa alguma. Fico em casa, vendo filmes. Sem ter o que fazer. Rezo bastante, faço promessas para que Deus dê uma solução ao meu problema. Está difícil, não aguento mais sofrer tanto.

O Bahia está lhe dando algum suporte nesse momento de dificuldade?

Olha, o contrato acabou no dia 30 de novembro. Não tenho mais vínculo algum com o clube. Mesmo assim, forneceram o advogado, Paulo Reis, que está cuidando do meu caso.

Dia 19 de março completam seis meses de sua suspenção. Tem esperança de redução ou até mesmo o fim dela?

Claro. Não sabe o quanto almejo isso. Oro todo dia para a possibilidade da comutação (mudança) da pena. Poderia pagar cestas básicas, fazer serviços sociais, etc. Só isso que peço. Quero voltar a jogar, além de minha grande paixão, é de onde tiro a renda para sustentar meus filhos.

Por sinal, são três crianças. Começo de ano há matriculas da escola… E aí, o que fazer?

Pois é. Tem a Maria Eduarda (8), Maria Fernanda (6) e o Renê Júnior (4). Não fosse o dinheiro que consegui juntar ao longo da carreira, estaria com sérios problemas. Fico triste ao olhar para eles e não saber como será o futuro. Não recebo mais salário, mas as despesas continuam chegando. As economias um dia irão acabar e… (pausa, seguida de suspiro profundo).

Sua ida para Santa Catarina se deu justamente por isso?

Sim, sim. Lá tenho uma casa, e minha esposa tem família. Aqui, não posso viver da incerteza. Se for alugar novamente o Village (em Stella Maris), terei que dar um cheque calção de três meses. Dia 19 de março é o dia que posso pedir a comutação. Se não for aceito, não teria razão de continuar aqui, estaria perdendo dinheiro.

Com a bola nos braços, sente saudades do dia a dia, dos treinos, do convívio…

Pô.. nem fale (novamente pausa e os olhos enchem de lágrimas). É a primeira vez que agarro essa aqui (a bola) desde o dia da suspensão. É duro. Estava treinando diariamente no Fazendão, mas ia em horários diferentes para não encontrar com o pessoal. O coração fica apertado, quero jogar, mas a justiça proíbe. Sinto falta da torcida, do coro “Olê, Olê, Olê, Renê, Renê”. Queria estar ajudando o Bahia nesse momento difícil. O Bahia não é grande, é gigante. Não pode passar por isso.

De tudo que passou, qual a lição que tirou disso?

Aprendi muito sobre a questão da automedicação. A recente doença de meu filho (no mês de janeiro) foi o exemplo. Ao invés de medicá-lo, como minha esposa fez comigo, o levei para o hospital. Lá, ele ficou internado 31 dias na UTI. Pegou uma bactéria que comprometeu parte de seu pulmão direito. Se eu tivesse lhe dado algum remédio, o médico afirmou que ele teria morrido.

E o futuro?

Sou formado em Gestão e Marketing, porém, não sei nem por onde seguir. Lá em Santa Catarina, ficarei treinando no CT do Marcílio Dias, na esperança de retornar ao Bahia, ainda em março.

20/02/2011 – Ao vivo: Bahia x Vitória

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