Por que um dirigente antigo não pode dirigir o Bahia?

Antes de tudo, quero reafirmar minha posição contrária à candidatura de Paulo Maracajá ou de qualquer outro de sua geração, por razões que já expliquei em outro post. Mas gostaria de comentar os argumentos contrários à candidatura dele.

A discussão que aqui se travou, eu como um dos participantes, não foi entre Passado X Futuro, mesmo porque tal discussão não é possível de ser realizada, uma vez que o Passado existe e pode ser julgado, e o Futuro não pode ser avaliado (aí, quem se assenta nele, fica isento de críticas), sequer pode ser estimado quando se trata de um Futuro indefinido. A discussão aqui travada foi se um gestor do passado, que mostrou competência na sua gestão, estaria ou não em condições de adotar os novos métodos mais adequados ao presente. Curiosamente esta questão fundamental – novos métodos administrativos e gerenciais podem ou não ser adotados por presidentes do passado – não aparece em outros comentários.

Mas isto não é o mais relevante, importam-me mais as premissas:

1) O futebol não é mais o mesmo de 30 anos atrás. Sim, e que conclusão pode ser tirada disso no que diz respeito à inaptidão dos que gerenciaram um clube de futebol há 30 anos, ou seja, por que o gestor de 30 anos atrás estaria a priori inapto para o serviço de hoje? Parece-me que a reposta aqui não pode ser dada de antemão, porque dependeria de cada caso, ou seja, é um daqueles julgamentos que só podem ser feitos empiricamente. Pelo que sei, não existe nenhuma Teoria da Administração que possa assegurar a priori a incapacidade de adaptação de gestores antigos aos negócios modernos.

2) “o que importa primordialmente é competência e profissionalismo. A última faz referência ao que se planeja. O abstrato se transforma em concreto na execução de um bom planejamento.”. Aqui, desculpe-me, se fez uma confusão: competência e profissionalismo, desde sempre, são os requisitos necessários para a boa administração dos negócios, seja no Egito faraônico, na China dos Mandarins ou no Esporte Clube Bahia do século XXI, logo estes requisitos não são característicos apenas dos tempos atuais, portanto não seria por isso que Eurico Miranda não teria dado certo no Vasco, tomando o exemplo repetido aqui ad nauseam pelos que acham que Maracajá não estaria apto para o mundo do futebol presente, quer dizer, Eurico Miranda não “vingou” não foi porque hoje exige-se “competência e profissionalismo” e ontem não.Tenho de discordar quando dizem  que profissionalismo faz referência ao que se planeja e realiza-se. Se assim o for, quando a dona de casa planeja a feijoada do próximo fim de semana e, chegado o dia, ela concretiza o que foi planejado, ela foi “profissional”. Tudo bem, pode-se dizer que ela foi profissional sim, mas, se for este o caso, o “profissionalismo” existe desde sempre, porque até as tribos que viviam da coleta e da caça planejavam e concretizavam o planejamento, com mais ou menos sucesso.

Logo, se for definido profissionalismo desta forma, fica difícil entender o que há de novo na gestão de um clube de futebol. Aqui, de novo, parece-me que o adequado seria explicar por que o antigo não pode gerir o clube de futebol moderno. Do que sei, profissionalismo está associado ao comportamento do funcionário que deve executar sine ira et studio o papel e a tarefa que lhe são prescritos dentro da organização.

De fato, este comportamento é mais acentuado no mundo moderno, mas veja, Jones, este moderno aqui tem 200 anos !!! De novo, por que o administrador do passado não pode agir assim? Henry Ford, um homem formado pelo século XIX, estaria de antemão inapto para gerir os negócios no presente?

Dizem  que o antigo presidente não reúne as características para gerir o futebol moderno e que, segundo vocês, foram recentemente atualizadas. Infelizmente, como todos os outros que acham que Maracajá seria um novo Eurico, não descreve que características gerenciais e administrativas eram exigidas ontem e quais são as exigidas hoje, para que possamos, à luz das Teorias da Administração, das Teorias das Organizações e da Sociologia das Profissões – eu não tenho nenhuma dúvida de que estes ensinamentos estão na base dos argumentos, todos eles implicitamente assentados no conceito de “gestão moderna”

Quanto à questão do Atlético Paranaense, não vou analisar porque eu nada teria a acrescentar ao que Atahualpa escreveu abaixo.

Sempre bom podermos discutir as idéias e, neste aspecto, este blog é um canal único. Pelo que já li aqui, a qualidade dos dirigentes atuais no campo das ideias não chega perto da dos torcedores. Ainda bem!

Dinensen – Torcedor do Bahia e amigo do BLOG.

Autor(a)

Fellipe Amaral

Administrador e colunista do site Futebol Bahiano. Contato: futebolbahiano2007@gmail.com

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