“Sou contra o gay espalhafatoso” afirma Eurico Miranda

O futebol sempre foi conhecido como um jogo duro, de contato e de alguma forma, ou em alguns casos, de forma ríspida e, por isto, naturalmente praticado por homens, mais afeitos a cacetadas, às quedas e aos empurrões, mas me refiro: homens na essência ampla da palavra e quando sai desta linha, encontra alguns críticos, uns de forma clara outros de forma sorrateira, no intuito de evitar a tarja de homofóbico e seus devirados, notadamente, de preconceituoso e por ai vai, ainda que sabiam, que a “viadagem” hoje, quase festejada e incentivada, está e sempre esteve presente no Alto Comando das Forças Armadas, passando pelos três poderes da Nação e ganha abrigo e um afeto adicional nas paróquias mais próximas do seu bairro, isto de modo tranquilo, sem resistência ou rejeição e com a benção da Televisão que dita, forma comportamento, conduzindo seu rebanho para o encontro com o novo e por eles aceitável e ai, num quase corporativismo.  No futebol não.


Tratando deste tema, seguem alguns trechos da entrevista concedida ao repórter Sérgio Rangel, ao Folha de São Paulo,  no dia 19, pelo presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda, um sujeito visto como antigo e com ideias ultrapassadas e analisadas e até, digamos, repudiadas pela jornalista, também da folha, Mariliz Pereira Jorge. To com Eurico Miranda e não abro, agora digo eu.

“Não tenho nada contra homossexual, mas contra veado”, “Sou contra o gay espalhafatoso. Todos têm direito de ter a sua opção. Só não pode agredir o outro”, “O cara espalhafatoso me agride. Mas acredito que nunca contratei um gay.”.

Veja ai. 

A declaração, segundo o próprio Eurico, polêmica, não causou nenhum tipo de indignação, seja da imprensa, do público e muito menos dos atletas, mas nesse último caso já era esperado. Nem é a primeira vez que o dirigente dispara a verborragia homofóbica. Em junho de 2015, ele disse as mesmas coisas, mas na ocasião ao menos a Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-RJ condenou a declaração e disse que ela era passível de processo, o que não aconteceu, infelizmente.

Em menos de dois meses é a segunda vez que o presidente do Vasco fala sem constrangimento algum sobre o que pensa da presença de gays no futebol. No começo de fevereiro, o alvo foram os árbitros. Ele é contra profissionais gays nessa área. “Ele (árbitro) pode tender para o namorado dele. Todo gay tem namorado. Ele é gay, tem que ter namorado”.

Pelo raciocínio, árbitro gay é necessariamente mau caráter, porque beneficiaria um possível namorado em detrimento do profissionalismo.

Eurico Miranda continua com sua artilharia conservadora e ultrapassada porque não lhe acontece nada, porque o futebol ainda é um reduto machista e homofóbico e o que ele diz apenas reflete o pensamento da maioria das pessoas ligadas ao esporte. E, principalmente, porque a grande maioria dos gays do mundo do futebol continua dentro do armário. Quem vai comprar uma briga dessa?

Pelo visto ninguém. Nem a imprensa, nem os profissionais da área, nem os movimentos de proteção aos direitos dos homossexuais. Uma pena, porque apenas reforça o senso comum de que futebol é coisa de macho -dentro e fora de campo.

O recado, principalmente aos jogadores, é claro. Façam o que quiserem, mas “não sejam veados”, não soltem a franga, não queiram mostrar que há diversidade dentro dos gramados, porque não queremos saber e muito menos ver.

Em 2009, o jogador Richarlyson moveu ação contra um dirigente do Palmeiras que teria dito que ele era gay. Na sentença, o juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho não apenas mandou arquivar a queixa, como fez questão de reafirmar a “masculinidade” do esporte. “Futebol é jogo viril, varonil, não homossexual.”

Junqueira Filho foi punido por um colegiado de magistrados que considerou sua deliberação “impropriedade absoluta de linguagem”. Passados quase dez anos, vemos que o pensamento que predomina no futebol ainda é carregado de preconceito. “Não há ídolos de futebol que sejam gays”, disse ele, na época. Se depender de gente como Junqueira Filho, Eurico Miranda e todo mundo que se cala diante de homofobia, nunca haverá mesmo.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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