A “DESREUNIÃO” no Esporte Clube Vitória

No último sábado (16/09), líderes da Rede Vitória Sem Fronteiras estiveram no Barradão, em reunião solicitada pelo Marketing do Vitória para apresentarem o planejamento do setor. Nossos representantes foram Raquel Ribeiro (VITORIAJU – Aracaju), Tiago Bittencourt (Vitória Candango – Brasília) e Vinicius Bittencourt (Vitória Sampa – São Paulo), munidos de questionamentos coletados pelas torcidas integrantes da Rede (22 torcidas agregadas). Eram principalmente sobre reforma do estatuto, ações de marketing, Arena Barradão e intervenções no time de futebol.


Antes de adentrar no decorrer da reunião, cabe esclarecer peculiaridades da Rede Vitória Sem Fronteiras, pois se trata de uma estrutura organizacional diferenciada dentre os movimentos de torcidas do Vitória.

A Rede não é uma torcida organizada, mas sim uma manifestação conjunta de torcidas, que muitas vezes não tem posicionamento uníssono. Imagine 50, 100, 200 torcedores em cada cidade destas 22 torcidas. Muitos deles estão há tanto tempo fora de Salvador, ou mesmo nunca estiveram tão próximos do clube. Nem por isso são menos importantes. O trabalho da Rede é dar visibilidade a esses torcedores, muitos deles associados do Vitória.

Com essa amplitude e essa capilaridade, imbuída do espírito democrático, a Rede procura ouvir os torcedores antes de se manifestar. Evitamos manifestações sobre aspectos que não são pacificados nas discussões. E as torcidas têm a liberdade de divergir do manifesto grupal e fazê-lo individualmente. Isso é democracia. E isso significa também que tudo o que publicamos requer um tempo maior de amadurecimento e de construção. Em geral, não atuamos com imediatismo.

Pois bem, voltemos a reunião do último sábado. Fomos recebidos muito bem pelo ouvidor Gilton do Carmo e nos sentamos à mesa com ele, com o presidente Raimundo Viana, com o conselheiro Ralph Fernandes, com Leila Teixeira e André Chaves, ambos do Marketing. Aí aconteceu o oposto do que a pauta previa e o oposto do que se espera de uma reunião, especialmente para torcedores que viajaram a Salvador por causa dela e precisavam otimizar o tempo.

O presidente Raimundo Viana repetiu a postura da reunião que tivemos em julho e passou cerca de uma hora e meia praticamente falando sozinho, enaltecendo as maravilhas da sua gestão. Foi interrompido algumas vezes pelos representantes da Rede, que não admitiram, por exemplo, ouvir que quem vaia o time não é Vitória, mas Victor Ramos, que ele julga ser um grande craque e ídolo, deve ser abraçado mesmo depois de fugir do seu tratamento médico para ir a uma festa em São Paulo. Ele deixou claro que prefere bater na torcida e apoiar um barqueiro pouco eficaz no seu trabalho. Chegou ao ponto de sugerir que torcedores que vaiaram poderiam ter sido “pagos”, como se a torcida do Vitória não estivesse insatisfeita o suficiente para fazer de graça. Raimundo Viana acha que torcedor do Vitória de verdade é o que pede para tirar foto com o “Vovô Mundico”.

Por quase a totalidade do tempo, Raimundo Viana se ateve a assuntos alheios a pauta. Levantou a voz para garantir seus argumentos que, em boa parte, eram também alheios a realidade, como enaltecer o desempenho de Kieza dizendo que ele é “vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro”. Algumas poucas vezes, os representantes da Rede conseguiram falar por cima do presidente, já que era impossível não ter reação diante tanta incoerência. O presidente adotou a estratégia de desvirtuar a pauta e empurrar a reunião com a barriga. E a reunião virou “desreunião”.

Pouco pode ser aproveitado deste dia. Levamos reclamações de torcedores quanto a dificuldade de renovar o Sou Mais Vitória pelo site, especialmente em um momento em que a eleição se aproxima e, pela mente dos nossos dirigentes, se o sócio atrasar a renovação em um dia invalida todo seu tempo de vínculo, perde os 18 meses contínuos e o direito de votar. Embora o estatuto não fale nada sobre o hiato entre o fim de um plano anual e a sua renovação, é assim que eles tratam a questão.

Foram explanados dois projetos sociais. A representante do VITORIAJU falou da escolinha comunitária Leões da Colônia, em São Cristovão (SE) e recebeu a promessa do clube fazer a divulgação do projeto e realizar uma peneira entre os garotos. Pelo Vitória Sampa, a campanha de doação de brinquedos às crianças do Instituto Saica Pilar no Dia das Crianças, também com promessa de divulgação. Sobre o Sou Mais Vitória, houve uma sugestão de benefício para sócios de fora de Salvador (a garantia do ingresso quando o time jogar próximo da cidade onde ele mora), a qual o vice-presidente Manoel Matos, que apareceu depois, concordou.

Lamentavelmente, foi o pouco que conseguimos colocar em discussão em quase três horas que estivemos representados no Barradão.

A Rede realizou todo o esforço para se fazer presente e foi privada de se manifestar sobre a questão central e vital do Vitória hoje, que é a malfadada reforma do estatuto. Se lá não pudemos falar, aqui decretamos aos quatro ventos que somos mais um dentre diversos movimentos de torcedores do Vitória que brigam por eleições verdadeiramente democráticas. Lutamos por uma estrutura organizacional plural e somos contra a proporcionalidade esdrúxula de uma chapa elegendo todos os seus candidatos e as outras obtendo vagas, aí sim, proporcionais. Somos contra a proposta do presidente do Conselho Fiscal ser obrigatoriamente da mesma chapa eleita para o Conselho Deliberativo, o que geraria desconfianças sobre a fiscalização. Temos a certeza de que a Assembleia Geral jamais votará pela perda do seu próprio poder de decisão sobre alterações do Estatuto. E é justamente por desejarmos estar cada vez mais presentes que reivindicamos a alternativa de votar pelo meio virtual, o que incluirá diversos sócios de fora de Salvador no processo político.

Por fim, lamentamos profundamente as manifestações tacanhas do presidente Raimundo Viana. Temos certeza de que o presidente do nosso clube precisa ser alguém de mente mais moderna e inovadora, que se conecte com a realidade e que trabalhe pela participação da torcida no dia a dia do Vitória e não apenas viva sob o carisma de um personagem.

O Vitória hoje é protagonista, sim, mas de uma comédia de erros, de um pastelão como o visto na última reunião do Conselho. Este Conselho ainda não se deu conta de que, endossada por um possível rebaixamento para a Série B, a chance de uma chapa de torcedores de arquibancada, não viciada, ganhar é muito grande, e de acordo com o estatuto atual, os 300 conselheiros de hoje darão adeus ao clube.

O Vitória tem muitos amadores, mas definitivamente não é para principiantes.

Amanhã vai ser outro dia. A justiça vingará.

ESTAMOS CONTIGO EM QUALQUER LUGAR!

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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