“Humildade essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria”. Talvez Robson Conceição não saiba da existência do Padre Antonio Vieira e das palavras ora transcritas, extraídas de seus sermões, que tão bem aplicam ao nosso atleta.
Dizem ( para os que não sabem) que Antônio Vieira era muito burro, completamente obtuso e certa feita rezando para a Virgem Maria teve uma terrível dor de cabeça, desmaiando em seguida. Ao se recuperar, era um novo homem, extremamente culto e um exímio orador. Ficou conhecido este fato, como o “estalo de Vieira”. Deixou para a nossa literatura uma grandiosa obra “Os Sermões”. Nós baianos não temos a cultura de sentir as nossas raízes. Quando passo, na rua da Ajuda, se a igreja estiver aberta, entro e visito o púlpito onde também fez parte de sua vida, aqui em Salvador. Ali entramos em reflexão, entrando no túnel do tempo, consciente de que ali freqüentou um dos mais extraordinários oradores da Igreja Católica.
Na última terça feira, Izaquias esteve no programa de Jô Soares, demonstrando o seu carisma, pela sua inteligência e carisma. Bem articulado, foi justamente muito aplaudido, para a alegria de nós baianos, mas Salvador tem o costume de polir mais seus filhos humildes, do que os nascidos no interior.
Robson Conceição é daqueles que afirmamos “da gema”. Alegre, simpático, principalmente humilde. O seu sofrimento na infância se transformou num autêntico “estalo de Vieira”, para o sucesso atual.
“Nascido em 25 de outubro de 1988, Robson Conceição é de origem humilde. Cresceu com a avó e com a mãe no bairro de Boa Vista de São Caetano, em Salvador, e nunca manteve contato com seu pai. Quando jovem treinava todo dia, percorrendo as ruas. Começou a trabalhar jovem para se sustentar e quase não dormia. Para treinar, ele se deslocava por 9km a pé, pois não tinha condições financeiras de bancar o transporte. Além disso, precisava ajudar a mãe e a avó em casa. Começou a trabalhar com feirante, acordava cedo e ia direto para a barraca da Dona Neusa. Lá montava toda a estrutura, carregava caixas de frutas e verduras e depois ia estudar. Depois de estudar, Robson retornava para a feira e ajudava a desmontar tudo. Os treinos só aconteciam à noite, por ser seu único tempo livre. Além de feirante, ele ja trabalhou como; carregador de compras, vendedor de picolé na praia, ajudante de pedreiro, vendedor ambulante em sinal de trânsito, entre outros.” (wikipédia)
Ouvi entrevistas que o mesmo quando garoto era um terror no bairro. Todo dia brigava. Até que apareceu um seu anjo protetor e o levou para o BOXE, para desviar seus defeitos, para o esporte. E deu certo. No seu sangue, talvez circulava o sangue da desigualdade social e lhe revoltava, com as agressões. Mas também tinha no seu sangue o DNA de baiano. Uma semente foi plantada num terreno fértil, que só mesmo nossos orixás regam e adubam.
Já na quarta-feira SPORTV o entrevistou nos seus estúdios e ele foi taxativo ao afirmar que o seu desejo é passar a sua experiência, para um projeto social amplo, no seu bairro. É O DIFERENCIAL. Antes ouvi uma crítica dele, afirmando que agora os políticos lhe procuram, quando foram sempre ausentes antes. Ele não é articulado, como o nosso também grande Izaquias, mas você vê o brilho da humildade exercido, na sua plenitude, que o faz uma pessoa extremamente simpática e boa.
Certa feita, perguntaram a Santo Agostinho, se Deus existe, por que há o mal? Ele respondeu que não existe a escuridão e sim a falta de luz. Não existe o mal e sim a falta do bem. Robson Conceição representa o bem da Bahia, que muito lhe agradece e que seu exemplo siga, nos bairros carentes, onde os meninos não têm nem cama para dormirem e nem espaço interno, para evitar as companhias externas indesejadas. Se não fosse o boxe, já estaria, talvez, ele, nas estatísticas da SSP. Obrigado Robson por você amar a nossa Bahia, a nossa Salvador e por tão bem nos representar.
A medalha de ouro que você ganhou, na verdade, reflete o que você é.
Atahualpa – Torcedor do Vitória, amigo e colaborador do BLOG