Entrevista com Vagner Mancini, técnico do Vitória.

O técnico Vagner Mancini é o diferencial do Vitória. Desde junho de 2015, quando regressou para sua terceira passagem pelo clube (as outras foram em 2008 e 2009), ele já é responsável pelo retorno do Leão à elite do futebol nacional, pelo título baiano deste ano e, agora, por um time competitivo na Série A apesar das limitações do plantel. O técnico foi concedeu entrevista ao jornalista Ricardo Palmeira, do Jornal A tarde neste domingo onde falou sobre os novos contratados e acredita que ele é o astro principal.

Veja a entrevista

Há semanas, você vinha repetindo o discurso de que o Vitória precisava de reforços. Recentemente, chegaram o atacante Ramallo e os meias Serginho e Cárdenas. Está satisfeito? O caminho é esse?

É, o caminho é esse. Até na minha renovação de contrato, no começo do ano, a gente havia acertado que o planejamento para 2016 teria que ter alguns pilares. Dentre eles, reconquistar uma vaga na Copa do Nordeste, ganhar o Campeonato Estadual e fazer um time competitivo no Brasileiro. Tudo está ocorrendo dentro do planejado. Lógico que algumas pessoas podem achar que está faltando um jogador aqui, outro ali… Às vezes, há uma carência porque o mercado não te oferece o que você precisa. Mas, de uma maneira geral, a gente está atingindo aquilo que foi delineado no começo do ano. O Vitória vive um bom momento no Brasileiro, mas pode sonhar em estar um pouco mais perto dos times que estão disputando vaga na Libertadores.

As três contratações te deixaram satisfeito?

Tivemos a oportunidade de dar uma boa avaliada nas contratações antes de realizá-las. Cárdenas, inclusive, já jogou no Brasil. Esteve no Atlético-MG em 2015. Ele regressou à Colômbia, mas era desejo dele voltar ao Brasil. Isso também tem que ser levado em conta. Quando você se interessa por alguém de fora do país, é preciso saber se é realmente isso que ele quer, se a vida em Salvador vai agradá-lo. Foi feito isso com Cárdenas e Ramallo. Antes de fecharmos as contratações, conversamos com ele e até com Serginho. Também buscamos informações sobre os atletas com pessoas de confiança. Felizmente, os três já estão quase integrados ao plantel e à cidade. Serginho, mais do que Ramallo e Cárdernas.

Cárdenas foi a contratação que gerou mais expectativa. Como foram as conversas com ele?

Uma das coisas que ele nos passou foi que, quando jogou no Atlético-MG, se sentiu muito bem no Brasil. Ele sabe que Salvador é uma cidade de praia, o que ele acha bom para a família e os filhos dele. Cárdenas foi um jogador que recebeu uma proposta, ponderou e, de uma forma coerente, tomou a decisão de aceitá-la.

Virão mais contratações?

Pelo nosso planejamento, ainda virá mais um jogador para a defesa. Será um lateral, mas talvez seja um jogador que jogue tanto na lateral quando na zaga.

Muita gente comenta que o maior astro do Vitória é você. Que o elenco tem algumas limitações, e que o grande trabalho do treinador é o que faz o Vitória ser bem competitivo na Série A. Você concorda?

Concordo. Acredito que eu tiro o que é possível do atleta. E essa é uma questão muito positiva para um técnico. Mas é óbvio que eu não faço nada sozinho. É preciso ter a confiança dos jogadores e da diretoria. Anderson Barros [diretor de futebol], que trabalha comigo diariamente, exerce um papel fundamental nesse comando. E quando você tem uma equipe que está disposta a fazer as coisas, você diminui a distância para uma equipe que tem suporte financeiro maior ou que é tecnicamente melhor. Para galgar um lugar melhor, o jogador sabe que precisa se superar não apenas nos jogos, mas também no dia a dia dos treinos. Daí, o treinador consegue tirar mais do atleta.

Você é considerado a principal peça do Vitória. E a recíproca é verdadeira: você considera o Vitória o principal clube de sua carreira de treinador?

Não tenham dúvida que sim. Eu tive um título expressivo no Paulista de Jundiaí [Copa do Brasil de 2005]. Foi o clube que me projetou. Mas, de todas as equipes que eu dirigi até hoje, o Vitória foi a que me deu a maior oportunidade de aparecer e de fazer bons trabalhos. Realmente, essa reciprocidade existe. Eu sou muito grato ao Vitória. Tanto que eu já recebi várias propostas para sair, mas não é o meu desejo.

Falando de seus comandados: o que tem achado de Dagoberto? É um jogador vitorioso, mas que vinha de uma passagem frustrante no Vasco, com excesso de contusões…

Desde que ele chegou, tem se mostrado extremamente profissional. Dagoberto virou um dos pilares do grupo. Ele se interessa por tudo o que está acontecendo, não só dentro de campo, mas fora também. Então, tem nos ajudado bastante, além de ser uma referência: é um cara com cinco títulos brasileiros [Atlético-PR em 2001, São Paulo em 2007 e 2008, e Cruzeiro em 2013 e 2014]. Ele tem muito a acrescentar, não só ao clube em termos de imagem, como também aos jovens atletas, pois o Vitória também é um clube formador. Os problemas que ele passou em outros clubes foram pelos ambientes onde ele viveu. Eu só tenho elogios a fazer a Dagoberto.

Ele fez 17 partidas, mas ainda não marcou nenhum gol pelo Vitória. O jejum incomoda?

A mim, não. Mas, percebo que ele está ansioso. Algumas vezes, ele esteve muito perto. Chegou a fazer um gol legal contra a Ponte Preta [empate por 1 a 1 em 26 de junho], mas que foi anulado. Porém, eu tenho certeza que esse gol logo vai acontecer, pois Dagoberto é um jogador diferenciado.

Quanto a Ramon e Amaral, porque eles tiveram essa queda de produção? Nos últimos jogos, você até os colocou no banco de reservas…


É um processo que todo jogador passa. Ramon vinha durante um ano jogando como titular e não teve a posição ameaçada em nenhum momento. Amaral, a mesma coisa. Só que chega um momento em que a queda de rendimento é normal. Você não consegue ser o mesmo o tempo inteiro. Nessas oscilações, é importante até para o atleta sair do time. Ele precisa se oxigenar para voltar com outro gás. Nos últimos treinos, eu já tenho sentido os dois melhores do que quando vinham jogando.

No dia que você virou para cada um deles e falou: “próximo jogo, você vai para o banco”. Como eles reagiram?

A gente tem uma relação especial com os atletas exatamente em função disso: nada é feito com brutalidade, tudo é acertado e mostrado ao atleta. Eles entenderam que seria importante para eles a ida para a reserva. Ninguém gosta de ver seu desempenho piorado.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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