BA-VI: É o jogo mais importante do Universo

Com toda modéstia e sem nenhum exagero, pode-se afirmar que qualquer Ba-Vi é sempre o jogo mais importante do universo. Na Fonte Nova, no Barradão, no Joia da Princesa, no Fazendão, no Perônio, no Campo do Tejo, na praia de Jaguaribe, onde for.

Para começar, nenhuma outra partida mobiliza todos os santos, deuses, orixás e demais forças ocultas. Não se ausenta uma única entidade desta e de outras dimensões nas escalações preparadas pelas duas torcidas. Joga a competição tudo aquilo que o espectador imagina – e aquilo de que nem faz ideia.

Até parece que, nestes 83 anos de clássico, só quem decidiu os duelos foram craques, pernas de pau e árbitros – que historicamente nunca esconderam sua preferência. Do desfalque de última hora ao gol esquisito, existem muito mais segredos do que nossa vã paixão nos faz supor.

Fora de campo, a melhor disputa entre tricolores e rubro-negros é o das gozações. A criatividade para tirar onda com o arquirrival torna ainda mais especial o evento. A irreverência natural da Bahia dá o tom, sobretudo com mistura de torcidas. Trata-se da festa de largo mais repetida no calendário local. É o carnaval do futebol. A terra da maior folia do mundo tem uma versão boleira que se difunde pela capital inteira, repercutindo no interior e nos incontáveis destinos dos emigrantes.

Quantas partidas reúnem tantos milhares de figuraças capazes de emitir as mais indizíveis pérolas? Arquibancada de Ba-Vi é poço de personagens transbordando aos borbotões. Seres tão caricatos, que soam falsos em relatos.

O Ba-Vi é tão bom, que resistiu à Série C, a péssimas administrações dos clubes e da Federação Bahiana, a uma provinciana falta de valorização local, a dezenas de jogadores que merecem total esquecimento, a nocivos setores da mídia e à concorrência de outras atrações soteropolitanas.

Infelizmente ainda precisa superar o enquadramento imposto pelo processo de elitização iniciado no milionário candidato a elefante branco de Pituaçu e continuado no projeto de shopping center da Fonte Nova, que se sustenta em garantias financeiras do governo estadual.

Outro imenso obstáculo é o conjunto de maus tratos ao torcedor/consumidor nos diversos aspectos da organização e da promoção do clássico. O jogo deveria tê-lo como finalidade primordial, mas dirigentes e autoridades – eleitos ou contratados para servirem à população – só o enxergam como números que geram cifrões.

As torcidas bancam reforma de estádio público, pagam ingresso caro, compram produtos dos times e de seus patrocinadores, formam a audiência da mídia que se reverte em cotas de transmissão de TV. Mas costumam ser achincalhadas pelos engravatados.

Também ao Ba-Vi cabe suportar atentados promovidos por alguns criminosos que integram grupos organizados das arquibancadas. Eles espalham terror, arrastão, bombas caseiras, pedradas contra ônibus repletos de inocentes, ódio, intolerância e separatismo clubístico. Das periferias aos portões dos estádios, onde enfim não se confrontam mais.

Nem eles nem a mediocridade dos times destroem o Ba-Vi, que, afinal, não é apenas o maior clássico do planeta, mais que isso: é o maior da Bahia.

Por Eliano Jorge/Jornal A Tarde

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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