Os avanços do Bahia na era Fernando Schmidt

O Esporte Clube Bahia fracassou no seu maior negócio: o futebol. Mas se caímos dentro de campo, subimos em outros aspectos importantes na vida do clube, sendo com alguns deles, de resultado em longo prazo. Evidente que democratização e avanços administrativos como os expostos abaixo em uma reprodução exata da pagina oficial de Facebook do Clube, não atenuam ou abrandam a enorme decepção do torcedor do Bahia com a queda para a Serie B, após uma campanha simplesmente ridícula no Campeonato Brasileiro, que nos envergonhou justamente no instante que acreditávamos que estaríamos na fase dos melhores momentos, isto, a despeito, do pleno conhecimento da falência financeira e o desamparo moral que já atravessava o clube, fruto e consequência de diversas administrações noviça que o tricolor de aço foi submetido.

Pelo menos fica o consolo que nem tudo foi em vão.

CONFIRA

DE ZERO A CEM MILHÕES EM PATRIMÔNIO

Em setembro de 2013, quando a atual gestão assumiu o clube, o Bahia não possuía nenhum patrimônio, com a sede de praia demolida e o Fazendão em nome da construtora OAS. Em dezembro de 2014, ao final do mandato, o Tricolor terá recuperado a propriedade do seu Centro de Treinamento (1), equacionado e garantido a utilização da moderna Cidade Tricolor (2) e também ganhará uma nova via de acesso ao Fazendão (3), valorizando ainda mais o terreno, próximo ao aeroporto de Salvador. A retomada de um imóvel e a ampliação com outro totalizam um valor de cerca de R$ 100 milhões.

RECORDE DE SÓCIOS

O Bahia é hoje o clube com o maior número de sócios entre as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país. São mais de 24 mil associados segundo o ranking do Movimento Por Um Futebol Melhor, dentro do TOP 10 nacional e também à frente de Vasco e Botafogo. A marca foi alcançada graças ao processo democrático iniciado no ano passado, quando o Tricolor não possuía nem 200 sócios em dia. Entre as principais vantagens do clube de benefícios, destacam-se a inovação do desconto de 50% no preço do ingresso da Fonte Nova e descontos em mais de 600 produtos e serviços em todo o Brasil, além de uma série de promoções exclusivas e a chance de ganhar ingresso nas partidas dentro e fora de casa.

TÍTULOS

Enquanto as três gestões anteriores do clube precisaram de 11 campeonatos para ganhar um título baiano (e este sem derrotar o arquirrival), a Era Schmidt conquistou o Estadual logo na primeira e única tentativa que teve (e sem perder para o rival após quatro clássicos disputados). Além disso, de maneira inédita em sua história, o clube faturou todas as quatro categorias do Baianão em 2014: na divisão de base, levantou os troféus do sub-20 (júnior), sub-18 (juvenil) e sub-16 (infantil).

CERTIFICADO DE CLUBE FORMADOR

Em maio de 2014, o Bahia obteve o documento mais cobiçado entre os clubes brasileiros quando o assunto é divisão de base. Após anos de tentativas frustradas, a CBF concedeu ao Esquadrão o Certificado de Clube Formador, responsável por garantir proteção jurídica para que qualquer atleta das categorias inferiores só saia se o clube for indenizado. O valor é de até 200 vezes do que foi gasto para a formação do jogador. Além disso, a agremiação tem o direito de receber porcentagens em negociações futuras. Para conseguir o selo, a entidade precisa atender a uma lista de exigências como apresentar programas de treinamento e proporcionar assistências médica e educacional aos garotos.

TODAS AS DESPESAS REVELADAS

Após inovar com o lançamento de uma seção específica dentro de seu site denominada Transparência (para expor balanços, prestação de contas, orçamento, planejamento estratégico, organograma, atas de reuniões do Conselhos Deliberativo e Fiscal, relação dos funcionários, lista de sócios, estatuto, etc), o Bahia também pulou à frente entre as equipes brasileiras ao divulgar mensalmente todos os gastos e investimentos feitos pela gestão, com direito a detalhes por cada departamento, andamento da execução orçamentária, análise financeira e também a contabilidade do período.

SALÁRIOS EM DIA

Pela primeira vez nos anos 2000, o Bahia pagou décimo terceiro salário integral para os funcionários. Pela primeira vez no mesmo período, o clube chegou a pagar salários de maneira antecipada. Se a comissão de intervenção encontrou um Bahia com três meses de vencimentos atrasados, em julho de 2013, o clube agora superou a difícil herança financeira existente e vai encerrando 2014 com eles em dia. Não foi registrado nenhum atraso para o corpo de funcionários ao longo da temporada. Os jogadores do elenco profissional tiveram, excepcionalmente, apenas entre agosto e setembro (já quitados). E, de maneira inédita, foi criado um plano e cargos e salários para o corpo funcional azul, vermelho e branco.

SANEAMENTO FINANCEIRO E REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA

O déficit financeiro do Bahia foi o que mais cresceu de 2012 para 2013 entre as 24 principais equipes do país: incríveis 174%, segundo a consultoria BDO. A primeira medida para enfrentar uma dívida superior a R$ 80 milhões e uma completa desorganização administrativa foi a redução de cerca de 50% dos custos, racionalizando gastos com itens como água, internet, telefone e medicamentos. Criou-se um sistema de gestão empresarial e um planejamento sobre as compras e gestão do estoque dos produtos. As finanças passaram a ser organizadas com a implantação de um fluxo de caixa, capaz de acompanhar as receitas que entram e as despesas que saem, dia a dia, do Bahia. Os orçamentos de cada área são acompanhados (e fiscalizados, além de divulgados), mês a mês. Inexistia sequer um levantamento detalhado do passivo tricolor. Após ser criado um planejamento emergencial a curto prazo, com atualização contábil e inventário de ‘parque de informação’, já se pagou ao todo mais de R$ 15 milhões só em dívidas de gestões anteriores.

FIM DO MUNDO PLAZA, REFORMA DO FAZENDÃO: INTEGRAÇÃO E ECONOMIA

O Bahia transferiu todo o trabalho do clube para um único espaço: o Fazendão. Antes da mudança, parte dos funcionários ocupava duas salas alugadas no luxuoso empresarial Mundo Plaza, na avenida Tancredo Neves. Além do benefício econômico, estimado em RS 400 mil anuais, a troca promoveu a uma maior integração entre os departamentos e facilidades na gestão. Antes da mudança, foram reformados o espaço administrativo da sede, o refeitório e os dormitórios da categoria de base, viabilizando a vinda dos mais de 30 colaboradores que trabalhavam longe.

AUMENTO NAS RECEITAS DE MARKETING

Sozinho, o programa de sócios do Bahia gerou mais que o dobro de recursos que o clube recebia em patrocínio na camisa: cerca de R$ 6 milhões. O ano ainda registrou o recorde de venda de camisas oficias (134 mil peças), sendo que 2/3 deste volume aconteceu a partir de julho –mesmo período em que o Tricolor ficou sem patrocinador máster, fruto do fim do contrato com a OAS. Na única forma de aumentar as receitas de TV, o Bahia mais do que dobrou o seu índice de audiência em pay-per-view em relação ao arquirrival, o que corresponde a um acréscimo de cerca de R$ 4 milhões ou de 10% em sua cota fixa geral. Além disso, angariou R$ 4,3 milhões entre permuta e publicidade. A previsão é que, apenas com ações implementadas em 2014, haja um faturamento de R$ 270 milhões nos próximos três anos.

PIONEIRISMO E NOVIDADES EM AÇÕES

O Bahia ganhou agência de viagens oficial para jogos dentro e fora de casa. Sócio do clube ganhou cartão de identificação que também funciona como cartão de débito da rede Mastercard, além de central de atendimento na região onde mora mais de um terço dos associados em Salvador. Surgem ações específicas para dias de jogos (20 anos do gol de Raudinei; dias dos pais, das mães, da criança etc) e uma série de camisas comemorativas (título baiano, aniversário do Brasileiro de 59, Democracia, Independência Tricolor, ‪#‎ComFéEuVou‬, 100 anos de Irmã Dulce, Olodum). É lançada a mascote feminina, e negra, do clube. Projeto Abraço Tricolor promove ações sociais. Futebol feminino é retomado e seguem parcerias com outras modalidades a exemplo de jiu jitsu e rali. Elaboração de projetos baseados na Lei de Incentivo ao Esporte, como para equipar toda a Cidade Tricolor e a construção de escolinhas em 10 cidades do interior.

BOOM NO LICENCIAMENTO

A chegada desta diretoria coincidiu com o fim do monopólio de uma única empresa no licenciamento de produtos do Bahia. Desde setembro de 2013, o número saltou para 43 licenciamentos. E a meta de produtos no mercado é de 500 até o fim de 2014, com novidades como DVD infantil, extrato de tomate e lingerie. Além disso, em vez uma única loja oficial, há diversas opções de lojas credenciadas, que trabalham somente com produtos oficiais e participam de ações de marketing do Tricolor.

ANTES DOADOS, INGRESSOS VIRAM RECEITA EXTRA

O que era um prejuízo de R$ 300 mil por mês se transformou em dinheiro extra para o clube. Os ingressos excedentes que o Bahia recebe da Arena Fonte Nova para os jogos da equipe, fruto do contrato entre as partes, deixaram de ser doados para as torcidas organizadas e passaram a ser utilizados em ações de marketing com a aquisição de produtos oficiais do Tricolor. Em 2014, o valor destas chamadas ativações nas lojas credenciadas foi de quase R$ 400 mil.

CLUBE QUE MELHOR APROVEITOU A COPA

Publicações nacionais como a ESPN destacaram o Bahia como o clube que melhor soube aproveitar o período da Copa do Mundo no Brasil para promover a sua marca. O Tricolor aproveitou as seleções que passaram por Salvador para firmar parcerias, trocar conhecimentos e utilizar jogadores e técnicos para divulgar o Bahia internacionalmente. Também lançou campanhas como “Vá de Bahia para a Copa” e teve o zagueiro Dante como Embaixador do clube na seleção nacional.


REVOLUÇÃO NA COMUNICAÇÃO

A primeira ação foi retomar o controle das redes sociais do Bahia, antes refém de uma empresa terceirizada, distante dos anseios reais da Nação Tricolor e que –ainda por cima– gerava custos extras ao clube. O torcedor, então, passa a ser ouvido e respondido em tempo real. Com uma linguagem nova e menos formal, as redes tricolores multiplicam exponencialmente de tamanho. A página no Facebook ganha cerca de 800 mil novos seguidores em um ano, contra cerca de 200 mil nos três anteriores. O Twitter se torna o oitavo mais popular entre os clubes do Brasil. É criado o Instagram do Bahia. Em vez de até insultos no perfil do antigo presidente, a torcida recebe informações exclusivas via SMS no celular. O clube estreia programa de TV no Premiere FC e intensifica a sua produção no YouTube. Um novo site oficial é lançado –melhor e quatro vezes mais barato– e o Sócio do Bahia também passa a ter um exclusivo para si. Veículos de imprensa agora são tratados igualmente, sem os constantes privilégios de outrora. Estudo encomendado pelo clube prevê que a marca do Esquadrão será exibida 700 milhões de vezes em 2014 em minutos de TV e aparições nos diversos canais de comunicação.

PARCELAMENTO TRABALHISTA E FIM DE BLOQUEIOS JUDICIAIS

Graças ao chamado ‘acordão’, renovado por mais dois anos pelo clube junto ao Tribunal Regional do Trabalho, o Bahia conseguirá equacionar dívidas com antigos funcionários que ultrapassam os R$ 7,5 milhões. Todo mês, o Tricolor desembolsa R$ 270 mil para o parcelamento do débito. O valor será reajustado periodicamente para quitar todas as ações que o clube responde desde as gestões passadas. Com a medida, o Bahia fica livre do risco de penhoras e bloqueio de receitas, tão comuns outrora. Além disso, desde setembro de 2013, o departamento jurídico reduziu em 63% os custos fixos do setor.

RESOLUÇÃO DO IMBRÓGLIO COM A NIKE

Após três anos de queixas da torcida, o Bahia consegue resolver o conflito que possuía com a empresa fornecedora de seu material esportivo da maneira mais favorável ao clube. Depois de meses de negociação, a Nike aceita antecipar o fim do contrato entre as partes sem o Tricolor precisar pagar uma multa rescisória de R$ 2 milhões. Além disso, a relação melhora e há recorde de venda de camisas oficiais em 2014. Quanto ao patrocinador, das cinco certidões exigidas pelo Poder Público para firmar parcerias com equipes de futebol, o clube consegue três e se aproxima de um desfecho positivo.

AVANÇOS COM A ARENA

Desde setembro de 2013, o sócio ganhou desconto de 50% no ingresso, bilheterias exclusivas e a chance de comprar pela internet, sem filas e por antecipação –este também um benefício para o torcedor em geral, que também viu um aumento de quase quatro vezes em relação ao número de guichês no estádio. Preços de alimentos nas lanchonetes e do estacionamento sofrem redução. Promoções passam a ser bem mais comuns, assim como reuniões entre as partes para cada vez mais aperfeiçoar a relação. Negociações em andamento devem gerar um incremento na receita de até R$ 1,2 milhão para 2015.

TRABALHO CIENTÍFICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO TORCEDOR

Estudo elaborado durante um ano mapeia o comportamento econômico do torcedor do Bahia a partir da estimação econométrica de uma função de demanda por ingressos, além de mais de 20 fatores que impactam a decisão de ir ou não a uma partida, permitindo melhores decisões do clube e criando um elemento na discussão sobre preços e promoções junto à Arena Fonte Nova.

MODERNIZAÇÃO E ENXUGAMENTO DA DIVISÃO DE BASE

Para melhorar o aproveitamento dos garotos e as condições oferecidas a eles no clube, o Bahia decidiu racionalizar o número de atletas nas suas categorias inferiores de cerca de 230 para 138, ao todo, e de cerca de 130 para 81 na hotelaria tricolor. O número de categorias foi reduzido de sete para quatro, em consonância com os principais campeonatos de base disputados no país. Houve contratação de um profissional de psicologia, reestruturação do setor de assistência social, melhor gerenciamento dos contratos dos atletas, instituição de um setor específico de trabalho de fundamentos para a formação dos garotos e a ampliação do tempo de uso da academia de exercícios, com base em avaliações de fisioterapeutas e preparadores físicos. A hotelaria teve melhorias significativas em suas condições físicas, com reformas na cozinha, quartos e entorno, e reabertura da sala de jogos.

RECUPERAÇÃO DOS DIREITOS DE TALISCA

Hoje na seleção brasileira, o meia Anderson Talisca foi encontrado com 100% de seus direitos econômicos fatiados entre empresários e nenhuma participação do Bahia numa eventual negociação do jogador. O clube conseguiu reverter a situação e ganhar 50% do valor da venda para o Benfica.

REFORMULAÇÃO NO FUTEBOL PROFISSIONAL

O clube passa a adotar como critério norteador a efetivação de contratos mais curtos e com menores salários para a formação do elenco, além da chamada taxa de vitrine. Além disso, entre empréstimos e rescisões, conseguiu enxugar a folha salarial com a saída de 20 atletas.

TROFÉUS: DO SACO DE LIXO PARA EXPOSIÇÕES

Encontrados em sacos de lixo numa sala abandonada quando a diretoria assumiu, os dois principais troféus da história do Bahia, referentes aos títulos brasileiros de 1959 e 1988, são restaurados e passam a ocupar lugar de destaque no clube, além de frequentes exposições na Arena Fonte Nova.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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