Paulo Maracajá: O Mito do dirigente ultrapassado

Este texto foi motivado pela última entrevista ao Jornal Bahia Notícias onde o Eterno insiste em dar entender à opinião pública que ele foi um dirigente que sempre conseguiu bons resultados, mas que depois de sua saída oficial do clube não tem mais responsabilidades, pois agora só ajuda e não é culpado por nada. Ninguém na Bahia acredita nisso (e trataremos de desmentir isso ao longo do texto), mas queremos derrubar um outro mito que existe na Bahia, a de que o “modelo administrativo” aplicado pelo Eterno no Bahia é ultrapassado. Isto pressupõe que antes havia bom desempenho, mas que agora este “modelo” ficou ultrapassado e não consegue fazer frente às exigências atuais do complexo negócio do futebol.

A nossa opinião é que este raciocínio é falso, vejamos:

Não existe “modelo administrativo”, existe uma monarquia decadente, aceitamos esta nomenclatura apenas por questões didáticas, para facilitar a exposição do nosso raciocínio.

O Bahia não conseguiu certo êxito por causa da atuação do Eterno, mas conseguiu certo êxito apesar da atuação do Eterno. O Bahia nunca conseguiu aproveitar o potencial de sua marca e de sua torcida ao longo dos anos de influência Eterna. Um clube com a torcida do Bahia é para disputar para ganhar campeonatos nacionais ano sim e outro também.

O Eterno se considera dono e responsável único pelos campeonatos ganhos com sua participação, mas sobre sua passagem da Diretoria de Futebol nos anos 70, Douglas, o maior jogador da história do clube, no livro de Bob Fernandes (Bora Bahêeea!) afirmou, “ele (o Eterno) não entendia nada de futebol, nós é que falávamos, contrata fulano, contrata sicrano”. “Era a gente que não deixava fazer greve quando o Bahia estava quatro meses atrasado com o bicho”. Ou ainda como disse Thyrso no mesmo livro, “nós fomos escada pra ele”.

Sem contar que numa época em que ainda existia um certo romantismo no futebol, nossa sempre vibrante torcida e jogadores se juntavam e se superavam, os exemplos no livro do Bob Fernandes são vários, Baiaco disse “”recusei (propostas), para não deixar o Bahia”, “eu gostava e gosto do Bahia”. Beijoca, “nasci para jogar no Bahia”, “a torcida se identificava comigo”. Thyrso confessou um defeito “era Bahia demais, queria ganhar o jogo e driblava demais”. Douglas não deixou por menos, “o Bahia é o maior do mundo, é a melhor torcida do mundo”, “Amo o Bahia, a torcida do Bahia, meu Bahia é um Bahia de garra, de paixão e de tesão”. Como ninguém é ingênuo de achar que este romantismo vai voltar, só nos resta buscar uma direção competente para o clube.

Desde a época na diretoria de futebol, o Eterno já se aproveitava do clube para interesses pessoais, muitas vezes, passando por cima dos interesses do clube e da torcida, em declaração recente, Douglas disse que o Eterno chegou ao ponto de pedir no intervalo de um Ba-Vi pelo Brasileiro de 78, quando o Bahia já estava ganhando de 4×0, para o time parar de fazer gols, senão o prejudicaria nas eleições, pois algum dirigente do Vitória era candidato pela Arena (partido do Eterno) e com menos votos na legenda do partido, o próprio Eterno teria sua eleição afetada, com 4×0 a torcida do Bahia já sairia feliz e seria mais negócio pra ele que o time não fizesse mais gols. Douglas (e Beijoca) disseram que não iriam parar, mas alguns jogadores se intimidaram e “a bola não chegava pra gente fazer” (o jogo terminou com o placar do primeiro tempo, Bahia 4×0 Vitória). Vale registrar que o período de Fernando Schmidt na Presidência do clube foi o único período de progresso e transformação do Bahia nos 35 anos que o Eterno está no clube. Schmidt tinha em mente um “Bahia Gigante” saneou as dívidas e construiu o Fazendão. Infelizmente, depois da saída de Schmidt e a chegada do Eterno à Presidência do clube foi interrompido o processo que transformaria o Bahia num clube que entraria em campeonatos nacionais para ganhar e não somente para participar ou para não cair, ou ser rebaixado, como vem acontecendo ao longo dos anos. A outra experiência que poderia ter sido importante para o clube foi a passagem de Antonio Pithon na presidência, principal articulador de Schmidt no projeto do Fazendão, mas ela foi rapidamente abortada.

Quando assumiu a Presidência do clube em 1979, o Eterno teve pela frente um período de decadência do principal oponente do estado, como é fato público, na década 80, o Vitória, muitas vezes não tinha bola para treinar. Mesmo assim, o Eterno conseguiu perder os campeonatos de 80, 85, 89, 90 e 92, desempenho que já anunciava uma situação antes impensável, que o Vitória passaria a ser o clube a ganhar mais campeonatos baianos, como vem acontecendo nos últimos anos.

Em termos de campeonato brasileiro, como mostram os dados abaixo, o desempenho Eterno como Presidente é sofrível, fora o título de 88 (que falaremos em seguida), os únicos resultados aceitáveis são a 4ª colocação de 90 e a 5ª colocação de 86. Com as regras atuais, os descensos para a 2ª e 3ª divisões já teriam ocorrido antes. É muito pouco para um clube com a torcida do Bahia! A média de público do clube na história do campeonato brasileiro só é inferior à média do Flamengo (por uma pequena diferença, 25.989 do clube carioca contra 24.983 do Bahia). Considerando que o Flamengo ganhou cinco títulos e teve muito mais jogos decisivos para jogar, mais importante ainda se torna a média do tricolor. Isto não significa apenas receita de bilheteria, isto representa um grande potencial de mercado.

Colocações do Bahia ao longo dos Brasileiros com o Eterno na Presidência

79 – 46º de 94 clubes (hoje seria 3ª divisão)

80 – 26º de 44 clubes (hoje seria 2ª divisão)

81- 16º de 44 clubes

82 – 14º de 44 clubes

83 – 21º de 44 clubes (hoje seria 2ª divisão)

84 – 26º de 41 clubes (hoje seria 2ª divisão)

85 – 12º de 44 clubes

86 – 5º de 44 clubes

87 – 11º de 16 clubes

88 – 1° de 24 clubes

89 – 19° de 22 clubes (hoje seria rebaixamento para 2ª divisão, o Bahia teve a humilhação de disputar o “Torneio da Morte” para escapar do rebaixamento)

90 – 4° de 20 clubes

91- 13° de 20 clubes

92 – 18° de 20 clubes (hoje seria rebaixamento para 2ª divisão, mas não houve rebaixamento em 92)

93 – 30º de 32 clubes (só não caiu por que o regulamento beneficiava os grandes clubes e outros clubes foram rebaixados)

O Eterno usa como álibi para qualquer dos seus pecados a conquista do Brasileiro de 88. E o que ele fez para o Bahia ser campeão brasileiro? De concreto mesmo, podemos dizer que ele chutou a macumba de chimarrão e pé de boi colocada no vestiário do Bahia no Beira-Rio! Exagero? Não, de forma alguma, qualquer calouro do curso de administração sabe que planejar significa definir objetivos e prover os meios para alcançar estes objetivos. Mas aconteceu que a Presidência do Bahia não fazia ideia que o clube disputaria o título, pois não havia se preparado para isso, o título não era um objetivo a ser alcançado.

Pois bem, vamos aos fatos:

1) Como um clube que quer ser campeão vende o melhor zagueiro do campeonato e o goleiro titular antes das Quartas-de-final? Em qualquer empresa, havendo um Conselho de administração, o Presidente seria demitido sumariamente por tamanha irresponsabilidade, quiçá, por justa causa. Mas o Eterno não imaginava que o Bahia chegaria entre os oito primeiros.

2) Como todos sabem, as finais do campeonato de 88 foram disputadas em 89 e como a Presidência do Bahia pensava que o Bahia só jogaria em março pelo campeonato baiano, não renovou o contrato com o fornecedor de material esportivo e o Bahia teve que jogar as finais com uma camisa improvisada de qualidade inferior, mesmo assim no primeiro jogo da Libertadores contra o Inter, o clube já não tinha mais uniformes e foi o Inter que providenciou o uniforme do Bahia para a partida.

3) Ganha-se campeonatos nacionais com times baratos? Quase nunca! Para o clube ser campeão brasileiro precisa ter jogadores experientes, tarimbados e alguns reconhecidamente tidos como craques. Mas uma hipótese remota aconteceu, juntou-se um bom técnico que estava retornando do exterior e procurando emprego, jogadores baratos, muito dedicados, ainda sem reconhecimento (embora alguns talentosos) e uma grande torcida empurrando todo mundo. Pois bem, com um time barato e não por boa gestão, com um time barato de jogadores ainda não valorizados no cenário nacional, contrariando a lógica da boa administração, o Bahia conseguiu combinar estes fatores e de fato, teve o melhor time da competição e mereceu ser campeão brasileiro. Mas não podemos contar que isso venha acontecer novamente. Para se ter idéia, segundo a revista Placar, n° 976, Taffarel, goleiro do Inter, que ainda não havia disputado nenhuma Copa do Mundo, recebia 6.000 cruzados novos de salário, mais do que a folha inteira do Bahia! Bobô, o maior salário do clube recebia 800 cruzados (à época) e Zé Carlos, outro destaque da equipe e vice-artilheiro da competição, recebia míseros 100 cruzados novos, menos de dois salários mínimos da época.

4) Um clube que se prepara para ser campeão brasileiro cria uma estrutura que impede que tenha grandes oscilações, se o Bahia tivesse se preparado para ganhar o campeonato de 88 não passaria o vexame de “disputar” o rebaixamento em 89 no ridículo Torneio da Morte. O Bahia foi o lanterna entre os que não caíram para a segunda divisão. Em menos de dez meses, a torcida foi do êxtase do título ao fantasma do rebaixamento, com quem convive com intimidade atualmente.

Acreditamos estar mais do que claro que nunca houve uma boa gestão Eterna no clube, não colocamos os dados dos anos mais recentes das Marionetes por que são desnecessários, pois são mais trágicos e ainda estão na memória de todos. Não adianta o Eterno dizer que não é ele o responsável, pois na sua mais recente entrevista ao Jornal Bahia Notícias, afirma que “não vai deixar ser presidente do clube alguém sem competência para tal, alguém que tenha raiva no coração”. Quer dizer, manda no Bahia e não é responsável pelos resultados! Piada! Para piorar, admite que fretou um avião para o Bahia jogar a final do Baianão contra o Juazeiro. Como pode ter feito isso, se em 2001 já não era mais presidente de direito do clube? Outro exemplo, no caderno de esportes do jornal A Tarde, edição do dia 08.04.2006, é colocado claramente que o Eterno ligou para o técnico do Colo-colo no dia 07.04.2006 apresentando uma proposta financeira para que este assumisse o cargo de técnico do Esporte Clube Bahia.”

Mas por que será que esta sofrível gestão, nos últimos anos não consegue nos dar os mesmos resultados de antes? O principal motivo é que a receita de bilheteria de jogo não é mais suficiente para financiar um clube que queira ter um bom desempenho nacional, considerando que as cotas de TV também são divididas por todos participantes das mesmas competições e por isso não se consegue grande vantagem competitiva advinda desta receita (embora isto tenda a mudar, tendo uma maior diferenciação de cotas). Para piorar, criou-se a figura do rebaixamento e o principal oponente no estado evoluiu nos últimos anos.

Em resumo, o ingresso do torcedor financiava o clube, mas agora é necessário obter novas receitas e saber gerir os recursos arrecadados e é aí que as coisas se complicam, não existe capacidade técnica para fazer isso no clube, o Eterno sempre se cerca de pessoas toscas para poder ter o controle da situação e repele pessoas de valor que não aceitam ser manipuladas. O quadro de associados não é trabalhado, não existe nenhuma campanha para se atrair novos associados por que isso significa dividir poder e assim é desperdiçada uma grande fonte de receitas.

Por que funcionários não são contratados para auxiliar essa gente? Não seria lógico contratar funcionários para trabalhar (não diretores, gente subordinada às Marionetes mesmo), fazer um bom trabalho para o Eterno e as Marionetes levarem os créditos? Seria lógico, principalmente por que o custo de se manter uma equipe administrativa de 15, 20 pessoas é muito baixo comparado ao valor pago pelos pernas-de-pau que são recorrentemente contratados e os resultados seriam bem melhores. Mas por que não fazem isso? A explicação é que colocar gente desconhecida no clube, pessoal não alinhado com as pessoas que estão no clube, poderia ser perigoso, ninguém pode saber dos esqueletos escondidos nos armários do Bahia. A torcida não se convence que o dinheiro ganho com as vendas dos craques de 88 se transformou em toboágua! A torcida quer ver os documentos contábeis que sustentariam o último balanço do clube e não foi mostrado a sócio algum!

Associação Bahia Livre

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