EC Vitória: Uma hegemonia pra inglês ver.

Nos bares, local onde se tem tempo de sobra para se tomar conta da vida alheia e há material farto para ser observado, os torcedores do Esporte Clube Vitória são facilmente identificáveis:  o corpo rijo; o andar pomposo; o semblante sisudo; o movimento “robótico” da cabeça; a voz empostada; em suma, o torcedor rubro-negro é identificável pelos aspectos físicos e comportamental que são o reflexo de sua “psique”: ele sempre acha que os outros fazem pouco dele, apesar de ele ser o suprassumo do mundo, daí ele agir do jeito que age. Nem todos os que têm este aspecto físico-comportamental são torcedores do Vitória, mas todos os rubro-negros têm estas características (tudo bem, nem todos, 99,9%, digamos). Porém, o que me interessa aqui é a hegemonia no futebol baiano que, no momento, serve para sustentar este “modo de ser” rubro-negro. 

A hegemonia do Vitória no futebol baiano, segundo dizem, faz 20 anos, e o metro usado pelos leoninos na defesa de sua tese é a conquista do campeonato baiano. Ao longo desses 20 anos (1995-2014), ele conquistou 13 títulos (estou excluindo 1999, porque, a bem do esporte, aquele campeonato deve ser excluído da conta de qualquer time, por não ter sido conquistado em campo, mas ainda que seja incluído ele não altera os resultado da análise), ou seja, 35% dos títulos não ficaram com ele.   

Este é um “furo” muito grande no tecido da hegemonia para ser ignorado. O Leão possui um número maior de títulos, porém hegemonia não é o simples somatório de conquistas ao longo do tempo, mas a certeza de que, em determinado período, não se tem rival ameaçador e de que, quando há fracasso do “hegemônico”, este pode ser considerado acidental. Mas 35% de fracassos não podem ser apresentados como acidente.   

Além disso, o Vitória nesses 20 anos não conseguiu sequer um pentacampeonato. Ora, 20 anos é tempo de sobra para um time hegemônico conquistar pentacampeonatos, porque, repito, hegemonia implica antes de tudo que não há rival ameaçador. Há “furos” demais neste tecido da “hegemonia” rubro-negra, para que se possa dizer que de fato há hegemonia. Claro, ela não precisa ser maciça, ela pode ter “furos”, isto é, outros times poderiam ganhar campeonatos no período referido sem que isso negasse a posição hegemônica do Vitória, mas o problema são os 35% de vezes em que isso aconteceu, a existência de um rival que nunca deixou de ser ameaçador e o fato de o Leão não ter conquistado um pentacampeonato.   

Quando se quer examinar a força duma hegemonia vigente devem-se examinar os anos mais recentes, e 25% do tempo são um referencial sólido para este exame. Nos últimos cinco anos, o Vitória conquistou apenas dois títulos, e, pior, o Bahia, outros dois; além disso, nos últimos três anos – 15% do total (fração também expressiva; o percentual não seria este se considerassem os 115 anos, mas já que se quer trabalhar apenas com 20 anos…) –, o Bahia conquistou dois títulos. Parece que a hegemonia do doméstico Esporte Clube Vitória, caso tenha existido, está em queda livre, dizem os números adotados pelos seus torcedores.    

Portanto, senhores frequentadores de bares, preparem-se para ver os rubro-negros com o corpo mais rijo, o semblante mais duro, a fala mais empostada, o movimento da cabeça mais “robótico”, pois o ressentimento deles aumentará. Parece que o Esporte Clube Vitória enfeia os que torcem por ele.  

Dinensen 

Fotos: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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