Bahia e Vitória: Realidades distintas

Vive-se hoje um momento peculiar dentro do futebol baiano. Os torcedores da Bahia são testemunhas de um novo e gritante redimensionamento de forças.

Não se trata, infelizmente, do fortalecimento do futebol do interior, surgindo um clube com o poder de se opor aos dois gigantes da capital. Uma agremiação com a capacidade de repetir os feitos de Colo-Colo, Bahia de Feira e, em outras épocas, do Touro do Sertão, não de maneira pontual, mas sim ganhando um, dois ou três campeonatos estaduais consecutivos e galgando os andares superiores das séries nacionais.

Esse fenômeno é oriundo de antiga, mais sempre atual recomposição dos tradicionais rivais baianos: Esporte Clube Bahia e Esporte Clube Vitória. Teme-se, entretanto, nesse novo contexto, o enfraquecimento paulatino dessa rivalidade imposto, não só, pela abissal distância financeira que separará os dois arqui-inimigos, mas também, por diferentes propostas de planejamento e gestão. O primeiro ponto diz respeito às diferentes perspectivas de faturamento dos dois clubes em questão.

O Esporte Clube Vitória ainda não sentiu o real impacto da permanência na segunda divisão do futebol brasileiro. A Diretoria e seus torcedores estão ainda em estado de torpor mediante a humilhante perda de classificação frente ao São Caetano em pleno estádio Manoel Barradas.

Pouco se fala da estrondosa queda de receita a qual o rubro-negro baiano será submetido no próximo ano, principalmente, por conta da diminuição dos direitos televisivos. Dificilmente, o Vitória romperá a marca de 25 milhões de reais/ano. Outras receitas, como patrocínios, bilheteria, sócio torcedor, contrato com fornecedor de material esportivo e venda de produtos serão afetadas pela menor visibilidade do clube e o natural desinteresse do torcedor tendo em vista os maus resultados dentro de campo. Além disso, o endividamento oriundo da campanha desse ano na série B impactará nos cofres do clube já em 2012, dificultando a movimentação do Vitória no mercado da bola, principalmente, em tempos de preços de craques inflacionados.

Por outro lado, o Esporte Clube Bahia vive um cenário de possibilidades. Lógico que um futuro aparentemente promissor pode ser esfacelado por equivocadas decisões dos mandatários tricolores. Entretanto, se há de convir que a situação do Esquadrão de Aço comunga com perspectivas mais frutíferas quando comparado com o seu arqui-rival.

Haverá, como já foi sinalizado pela imprensa, um incremento da receita televisiva. Estima-se que o faturamento do Bahia atinja cifras em torno de 55 a 60 milhões/ano, obviamente contando com todas as vias de arrecadação. O aumento substancial dos assinantes em determinado canal esportivo fechado no estado da Bahia posicionou o Tricolor como uma das vedetes do setor. Melhores contratos de patrocínio, aumento da arrecadação do torcedor oficial, novo contrato de fornecedor de material esportivo, venda de atletas são algumas boas fontes de faturamento para o próximo ano. Especula-se nomes como a Nike, Netshoes, além das negociações dos jogadores Ananias e Ávine.

Além dos fatores mencionados, o uso da Arena Fonte Nova deverá ser definida, principalmente pelo Leão da Barra, tendo em vista que a posição do Esporte Clube Bahia já vem definida de longa data.

Do lado rubro-negro, vive-se um desconfortável dilema. Ao permanecer no Barradão, palco de grandes triunfos, o Esporte Clube Vitória fará uma opção pela mística e pela história em detrimento da modernidade e da viabilidade econômica.

Utilizará um aparelho esportivo obsoleto com pouquíssimas perspectivas comerciais, deixando o Tricolor livre em uma arena moderna, sede da copa do mundo.

Contudo, indo para a nova Fonte Nova, o rubro-negro relembrará um período pouco vitorioso de sua história, tempos em que dividia um estádio com seu inimigo. Além disso, transformará o Barradão em um “elefante branco” em desuso, perdendo sua capacidade de arrecadação para eventuais melhorias e manutenção, instituindo um ciclo de depreciação patrimonial.

Obviamente que soluções alternativas existem e o uso da Arena Fonte Nova deve ser cogitado, mesmo que parcialmente, pela diretoria rubro-negra, correndo-se o risco, em contrário, de perder o bonde da história. Obviamente, todas as boas ou más possibilidades mudarão de endereço caso o elevador resolva descer ou o avião da fé decole em 2012. Como não se trata de um futuro imutável, o papel do torcedor é muito importante, cobrando e exigindo das respectivas diretorias profissionalização, competência e atitudes transparentes. A democratização dos clubes é a melhor alternativa para que boas perspectivas se tornem realidade e para que maus presságios sejam exorcizados.

M.A.T.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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