Conflitos de gerações

No Bahia há uma clara questão de conflitos de gerações, apesar do rosto jovem do nosso presidente. Esses conflitos de gerações se expressam de maneiras bastantes contundentes. Hegel ensinava já a dialeticidade da história, não é diferente da história do nosso clube. Sentimos os ventos das novidades em nosso país, sentimos uma geração de jovens chegando a todas esferas de poder com um espirito marcado pelo constitucionalismo brasileiro. No Bahia, não pode ser diferente.

Nos últimos tempos nunca vi tanta mobilização e movimentos que queriam um Bahia livre. Qualquer candidato que chegasse a presidência do Bahia teria que dar uma resposta rápida a este anseio que partia de todos os torcedores do Bahia, quase todos. Muitos, no entanto, reclamam da passividade da torcida do Bahia. Mas, eu penso que o problema do Bahia não é de passividade, o problema do Bahia é a falta de compreensão de seus agentes dominadores sobre a historicidade do Bahia.Infelizmente ou felizmente, ainda somos marcados pela visão aristótélica de pensar o mundo, de contemplação metafisica e de permanências em oposição a uma visão mais contemporânea e de atuação do homem na história enquanto ser pensante e atuante. No Bahia pululam orientações e movimentos que procuram encarar de frente o problema da falta de identidade do torcedor do Bahia com reinvindicações que não passam do puro resultado em campo. Surgiram a Revolulção Tricolor, o Bahia livre e outros movimentos na internet que cobram essa postura de um Bahia ativo e centrado nas causas que fazem da decadência tricolor o centro de suas preocupações.Os dirigentes que estão no poder no Bahia há anos não gostam de ver o Bahia das ruas e de suas reinvindicações político-insitucionais. Sentem como se tivesse o Bahia sendo invandido. Estas demandas que surgiram, no entanto, que são manifestadas pelos torcedores do Bahia de forma ordeira, mas incisivas de mudança estatutária e democracia, são reações naturais de muitos tricolores que foram alijados da participação político-instituicional do Bahia pela mentalidade “maracajista” de gerir o Bahia.Esses novos agentes políticos do Bahia são vistos pelos que estão no poder no tricolor como coisa de petulantes jovens e de políticos de esquerda. O Bahia vê com muito estranhamento tanta mobilização em torno do modo de gestão do tricolor e o pedido de mais democracia no Bahia. Resultados em campo seriam a melhor resposta, diriam os conservadores. Em seus afãs de demostrarem sua visão de mundo superior, contemplativa e hieraquizada da vida, o arcaico no Bahia segue agindo irresponsavelmente. Assim, procastinam tanto e não traduzem na captação de sócios para quadro social uma infinidade de pessoas; ao contrário, o Bahia gasta dinheiro que não tem, empurrando com a barriga suas dívidas, fazendo da irresponsabilidade uma regra, com a visão de mundo que futebol se resolve só com contratação de jogadores.Enquanto não tivermos bases sólidas para que consigamos albergar no Bahia uma safra de lideranças e chamar para a vida político-institucional do Bahia esses valores pessoais de jovens que vem das ruas e movimentos pedindo um novo Estatuto democrático, caíremos no mesmo círcuculo vicioso que faz do Bahia, hoje, um clube menor no cenário brasileiro, na segunda divisão. A lei Pelé exige essa mudança paradigmática de dentro para fora no Bahia. Não adianta o melhor administrador do mundo caso o Bahia não consiga captar recursos humanos com uma visão histórica das necessidades atuais do clube, deixando para trás uma visão de mundo estática e calcada pela passividade de eternos conselheiros sem autonomia para cobrar mudanças no clube.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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