Bahia com muito orgulho e amor – 20 anos depois

O dia 19 de fevereiro deveria ser feriado na Bahia. Sabe por quê? Lá pelos idos de fevereiro de 1989, o Bahia conseguiria levantar pela segunda vez o campeonato brasileiro. Não foi pelo lado esportivo algo fácil ou por acaso, embora saibamos que administrativamente o Bahia nunca mais conseguiria se estruturar para conseguir repetir tal feito. Não obstante isso, o Bahia de Bobô e Paulo Rodrigues se impôs frente ao Internacional de Porto Alegre. O meia Paulo Rodrigues, soberano no meio, era o melhor exemplo da categoria daquele time que jogava afinado sob a batuta de Evaristo de Macedo. Armando Oliveira, em 1989, com um dom profético, perguntava para toda a Bahia: “será preciso passar mais trinta anos esperando outro título brasileiro?”

Esse título de 1988 foi uma vitória da cultura baiana e do nordeste, muitos em todo o Brasil vibraram, baianos e simpatizantes, para ver o Bahia mais uma vez repetir o feito de ser Campeão do Brasil, só antes conseguido pelo próprio Bahia, que recolocava a Bahia no mapa do futebol brasileiro. Tamanha empolgação da torcida, pela conquista de 1988, só existiu com o time de Douglas, Baiaco, Sapatão, Beijoca e Fito que se tornaram verdadeiras lendas do futebol baiano, quando o esquadrão conseguiu o feito até hoje inigualável de conquistar um hepta campeonato regional.

O Bahia nos empolgou, intensificou nossa paixão com a conquista do título de 1988 e viu ela quase desaparecer depois quando caiu pela primeira vez para a segunda divisão do nacional em meados da década seguinte ao título. Mas o pior ainda estava por vir, o Bahia fracionado em dois: o Bahia e o Bahia S/A. A notícia ganhou o noticiário nacional da bandeirantes, comandada por Chico Pinheiro: “Banco compra clube de futebol”. O mundo também mudava numa velocidade alucinante. Tudo isso angustiava o torcedor do Bahia que não acreditava no que estava acontecendo. O tempo, porém, cura tudo e o título de 1988, hoje sabemos, não foi proeza de dirigentes, mas o mérito de jogadores, trabalhadores e torcedores como a maioria dos brasileiros. Porém, querer transforma o título do Bahia em algo como o acaso é não acreditar no povo baiano.

Desaparecia assim o mito Esporte Clube Bahia. Viria a nascer um clube de dupla personalidade, cujo destino era quase desaparecer sem que pudéssemos fazer nada. Viriam a surgir depois numerosas manifestações que queriam restituir a glória do nosso Super-Homem, o tricolor de aço. Chegávamos a terceira divisão do nacional e por lá ficamos por uma ano. Surgiram a Turma Tricolor, a histórica manifestação dos 50.000 no Campo Grande e mais recentemente a Revolução Tricolor que pedia reformas no tricolor. Contudo, as coisas não melhoravam. A torcida decidiu invadir o Fazendão e exigir uma posição da diretoria tricolor, que respondeu com a promessa de dar ao Bahia aos seus sócios com eleições diretas para presidente em 2011. Veio uma assembléia que aprovaria a eleição, mas nada aconteceu como o esperado. A oposição heróica do Esporte Clube Bahia se esforçava para devolver o Bahia a sua torcida, mas sem o sucesso pretendido.

Para a tristeza de muitos tricolores, Marcelo Guimarães Filho assumiu a presidência do Bahia. O seu pai havia deixado o Bahia na terceira-divisão do futebol nacional, por isso os maus preságios . Todavia, a vida deu de mão beijada ao jovem presidente tricolor um ex-dirigente do rival, que pode determinar uma mudança paradigmática no futebol da Bahia. Nunca um ex-presidente de clube de futebol do Bahia ou do Vitória havia deixado pra trás seu ex-clube para formar uma equipe de futebol do seu adversário. Era como a paixão clubística, coisa que dizem ser o homem mais fiel que a própria mulher, pudesse ser uma amante infiel. O que na verdade estava acontecendo era uma jogada de marketing audaciosa. E, talvez, o começo da virada por cima do tricolor de aço da boa terra para levantar sua torcida outra vez. Quem sabe o homem não possa mudar a história e nos restituir a glória?
Mauricio Guimarães

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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