Marcelo Guimarães Fº: “Vamos romper velhos hábitos”

Uma gestão marcada pela impessoalidade e que deixe o Bahia com uma estrutura para sempre. A recuperação da cultura de vencedor de um clube grande. A aposta no técnico Gallo, mesmo que os resultados não apareçam logo. A administração de Pituaçu e o fortalecimento das divisões de base. Negociar o Fazendão e a sede de praia. Idéia é o que não falta ao deputado federal Marcelo Guimarães Filho, presidente do Bahia.

O novo cartola de 32 anos visitou a redação do Jornal Correio, e uma equipe de jornalistas o recebeu “de galera” , como se diz em bom baianês. O Editor de fechamento Oscar Valporto, o editor-coordenador de Esporte, Paulo Leandro, o subeditor Marcelo Sant’Ana e os repórteres Herbem Gramacho e Miro Palma sabatinaram o parlamentar, na manhã de sexta feira. O resultado dos melhores momentos do bate-papo coincide com a perspectiva de um Bahia diferente do que a torcida estava se acostumando a aceitar.

O Marcelo Guimarães é um político habilidoso e sabe dizer o que o povo quer ouvir, este é seu maior mérito no momento. Se não tem água na região, então vamos levar, se não tem luz, vamos levar, se não tem saneamento básico, vamos tratar disso em 15 dias.

Ele soube captar os anseios do torcedor do Bahia e recorreu ao velho manual do recém eleito. Vamos esperar que não apenas prometa, como também pratique “boa parte das promessas” de agora.

De qualquer sorte é um alento grande, especialmente para um clube, que não tinha comando, que era uma casa de mãe Joana, bem ao estilo ladeira da montanha, que vendia ingresso inexistente, que contratava jogadores impedidos de jogar, como foi o caso de Fábio Junior, que era humilhado, um dia sim, outro também, pelo Vitória e outros não menos inexpressivo. Que levava de 7, 6, 5, 4, 3, que colecionava derrotas e humilhações, que não tinha coisa alguma. Hoje temos promessas, antes nem isto havia, era ao deus dará, se colocava a água no fogo, enquanto Petrônio Barradas rezava para chover feijão de um lado e Rui Accioly torcia, por tempestade de farinha do outro.

O torcedor do Bahia está como aquelas pessoas que na desesperança, recorrem às velas, charutos, caixas de fósforos e babalorixas e acaba acreditando em qualquer coisa, até em cão de calçolão, é meu caso. Bom, confira abaixo entrevista do presidente do Bahia publicada na edição de hoje do CorreioENTREVISTA COM MARCELO GUIMARÃES FILHO

Correio – A cobrança já está grande por parte dos torcedores?

MGF – Sim. Antes, era chamado de deputado, agora virei presidente. Fui promovido.

Correio – Qual o item que mais o preocupa neste inicio de gestão?

MGF – A questão financeira está bem pior do que eu imaginava. Não temos receitas, mas precisamos pagar nossas obrigações.

Correio – Você entrou com um discurso de tornar a gestão do futebol mais profissional. Deve ter um plano de meta. O que você vai realizar em 2009, 2010 e 2011.?

MGF – Em 2009 vamos subir para série A. Assim sairemos dos R$ 12 milhões anuais de orçamento, que ainda estamos montando de onde tirar os recursos. De volta à Série A em 2010, vamos saltar dos R$ 4 milhões oriundos do Clube dos Treze para R$18 milhões. Portanto, o acesso à elite está ligado à estabilidade das finanças. Em 2011. pretendo deixar o Bahia com eleições direta dos sócios.

Correio – E em 2010?

MGF – Bom, em 2010, vamos fazer um bom papel da série A, quem sabe garantir uma vaga na Copa Sul-Americana, onde o Vitória está presente.

Correio – Na questão dos recursos, a questão da utilização de Pituaçu não poderia ser a boa opção, caso o governo viabilize a cessão do estádio ao clube em comodato, por exemplo?

MGF – Sim, neste caso poderíamos trabalhar a captação de publicidade estática, entre outras ações de markentig. E o governo não teria despesas na administração do estádio que não é barato. Não é vantajoso para o governo administrar Pituaçu. Nossa meta é lotar em todos os jogos, pois a capacidade de 32 mil pessoas é pequena para o potencial da torcida do Bahia.

Correio – Que atrativos você planeja para o torcedor.?

MGF – Vamos propor categorias de sócios diferenciadas, como sócio de estádio, que pagaria um valor a mais. Objetivo é colocar em pratica várias opções para atração dos tricolores e ampliar, assim, a participação dos sócios na vida política do clube, uma boa contribuição da oposição tricolor.

Correio – Você não tem o perfil típico do cartola, até pela idade, mas representa também uma continuidade do grupo que controla o clube. O que você pretende romper e o que você pretende continuar no contexto anterior?

MGF – Quero deixar como legado a impessoalidade, como já existe em outros grandes clubes, a exemplo do São Paulo onde não tem eleição direta, mas tem alternância de poder dentro do conselho. É necessário romper com antigos métodos administrativos e a chegada de Paulo Carneiro para gerente de futebol representa bem esta ruptura.

Correio – E o que presta, vai continuar alguma coisa?

MGF – Nada especifico. Vamos aproveitar a experiência acumulada das pessoas, pois a minha juventude pode atrapalhar, por causa do arrojo.

Correio – Seu pai, Marcelo Guimarães, como quase todo tricolor de verdade, não tem Paulo Carneiro exatamente como um ídolo. Como foi para ele entender o convite a Carneiro?

MGF – Ele foi contra a minha candidatura, mas depois entendeu. O mesmo aconteceu em relação a Paulo.

Correio – A falta de transparência na gestão do clube é uma das criticas da oposição. E o clube continua sem publicar suas contas.

MGF – Me dê um documento aí, que eu só tenho uma semana na presidência (risos). Vamos publicar de três e três meses, no site, todas as informações relevantes em relação ás contas do clube, incluindo a participação de empresários.

Correio – Este é um problema grave dos clubes e não só do Bahia. Como você pretende proteger o clube da ação dos espertos empresários e seus parceiros estabelecidos até mesmo na mídia esportiva.

MGF – Paulo Carneiro é experiente e conhece quem é o empresário bom e não vai contratar atletas sem valor. Estamos tendo uma a boa parceria do empresário Orlando da Hora, sem interesse pecuniário. Vai ser difícil blindar 100% o clube, pois este é um problema estrutural, mas vamos ficar atentos para evitar entrar no rodízio, trazendo atletas que ficam de clube e clube gerando despesas.

Correio – E o contrato de Paulo Carneiro, ele também ganha porcentagem em negociação?

MGF – Há uma cláusula no contrato que não nos permite revelar acertos.

Correio – A minuta do contrato a que o correio tem acesso, havia uma cláusula de remuneração variável.

MGF – Sim, Paulo Carneiro terá uma remuneração fixa, mas terá também algum adicional, à medida que o Bahia alcançar suas metas, a começar pelo acesso a série A, mas também chegando à sul-americana e até o mundial de clube.

Correio – Paulo Carneiro reconstruiu o Vitória, tomando com base, além do estádio o Barradão, o fortalecimento do trabalho de revelação de jogadores. Por que Newton Mota para comandar este trabalho, já que ele levou 42 jogadores do Bahia para o Vitória em 1991, levado pelo mesmo Paulo Carneiro, e em 2006, transferiu mais 26 para o Cruzeiro?

MGF – Mota também colocou muito recurso no clube. E tinha muito a receber no Bahia. E, aqui prá nós, fez um excelente acordo para o Bahia. Eu mesmo não faria como ele fez.

Correio – Por sinal, essa transferência de Mota do Bahia para o Vitória em 1991 tem algo similar com a vinda de Carneiro, em sentido contrário. Teremos em 2009 tantas noticias de impacto como Carneiro produziu no Vitória, com a chegada de jogadores de expressão internacional?

MGF – Em 2009, será impossível ainda por conta da dificuldade financeira. Mas com a volta à série A, é possível que ocorram contratação de impacto no futuro.

Correio – E Gallo, se o Bahia não fizer um bom Campeonato Baiano, vai ficar?

MGF – Pensamos em fazer um contrato de dois anos com Gallo, mas não foi possível. As cláusulas de rescisão existem, mas são mais vantajosas para o Bahia. O São Paulo acertou ao manter Murici, que teve problemas no inicio do trabalho, mas está há três anos no Morumbi e é tricampeão. Pretendemos manter Gallo, sim.

Correio – Como você vê uma provável negociação do Fazendão e a Sede de Praia?

MGF – A sede de praia poderia entrar em uma composição com o Governo, que nos cederia Pituaçu, em troca da utilização da Boca do Rio para projetos de fins sociais, pois pega uma população carente enorme na região. O Fazendão está a cada dia mais ilhado, lá em Itinga. Se aparecer um bom negócio com uma construtora, poderemos ter um centro de treinamento melhor e com melhor acesso

Correio – No passado, o Bahia tinha ídolos. Hoje, restou Marcelo. Pensa em manter o jogador como referencia do velho Bahia?

MGF – Não, não. Marcelo é ótimo jogador, mas queremos fazer outros Marcelos nas nossas categorias de base.

Correio – E as parcerias?

MGF – Vamos tentar o Banco do Nordeste e a Eletrobrás, além da lei de Incentivos ao Esporte, que já é bem utilizado por São Paulo e Atlético Mineiro.

Correio – Se tudo der certo, você tem medo que Paulo Carneiro pegue a fama de ter salvo o Bahia.?

MGF – Não. O importante é que o Bahia se saia bem, não importa o que digam.

Leia na integra a entrevista de Marcelo Guimarães Filho na edição deste domingo do Correio.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

Deixe seu comentário