O jornalista e o torcedor

Os jornalistas esportivos vivem sendo cobrados por suas preferências clubísticas. Tem locais e veículos que trabalham isso de forma menos travada. O Lance! mesmo, na edição dos 10 anos de fundação, informou o clube de cada um de seus profissionais.

No Rio, João Saldanha nunca deixou de ser um cronista considerado mesmo assumindo sua paixão pelo Botafogo. Juca Kfouri, Corinthians, e Bob Fernandes, Baêa, também seguem esta linha assumida, sem sofrer maiores arranhões na tal da credibilidade.

Mas há repórteres que preferem a técnica do camaleão. E para se proteger dos leitores ou ouvintes fanáticos, juram que torcem pelo Galícia ou o extinto Botafogo. Podem também virar são-paulinos desde criancinha, ou quem sabe, Palmeiras, Corinthians…

Com as novas tecnologias conectando este globinho pequeno, já há até quem curta uma de Milan ou Barcelona. Vale tudo, menos assumir a verdade sobre si mesmo. E ter a coragem de ser um bom profissional esportivo sem precisar sublimar o amor ao clube.

Entendo perfeitamente os companheiros camaleônicos mas afirmo ser impossível entrar no ambiente esportivo de verdade sem morrer de amores por um clube, antes de se tornar produtor de conteúdo massivo. É tipo um pré-requisito para a coisa poder andar.

FIRMEZA

É na arquibancada que se constrói o jornalista. Depois, vem a faculdade. E depois, a escolha pela carreira. Logo, não podemos dizer que caímos de pára-quedas no ambiente esportivo e com isso somos neutros, imparciais, objetivos, castos, santos e puros.

A impossibilidade de ser fora do mundo para contar algo que acontece no mundo, no entanto, não impede que o profissional se eduque para conter seus impulsos. E dificilmente um torcedor-jornalista deixa de cobrir bem ou editar com equilíbrio o rival.

O besta aqui mesmo foi o único jornalista baiano a editar uma publicação especialmente voltada para o título nacional conquistado pelo Bahia em 1988. Já editou não-sei-quantas mil-matérias, já cobriu o Tricolor e ainda hoje tem gente que o “acusa” de Baêa.

No entanto, o mais sincero mesmo, diante do público, é fazer o exercício de confissão mais básico. Ama com fé e orgulho o clube que escolheste, diria aquele poeta, em uma repentina adaptação. Sou Vitória, com emoção. E também meus pais e minha prole.

Cada colega acha seu jeito de domar seus excessos. E a experiência me diz que, quanto mais a pessoa nega seu amor, mais ele aparece, aqui e ali, na legendinha maliciosa, na abordagem irônica do rival. O caminho de se assumir parece garantir mais firmeza.

LINGUAGEM

Por isso, quando meu ex-aluno da Faculdade de Tecnologia e Ciências e colega de arquibancada (sim, adoro ir ao Barradão com as crianças!), Francisco Ribeiro, me convidou para colaborar com o Barradão On Line, senti um prazer imediato.

Foi a mesma sensação agradável que tive quando o ex-presidente Paulo Carneiro me convidou, ainda Luciano Santos, Nilton Filho e Ayrton Ferreira (BOL). Montagem sobre foto de João Alvarez (GMB) numa sala do Banco Excel Econômico, para produzir uma revista impressa para o Vitória em 1997. Na época, editava a revista Perfil, house-organ do Excel.

Topei na mesma hora. Assim como também disse sim a Ribeiro sem hesitar um segundo sequer quando ele me puxou para reestrear o Barradão On Line, cujo nascimento noticiamos na velha Gazeta da Bahia (foto), que era encartada diariamente na Gazeta Mercantil até novembro de 2001.

Espero ter aqui com vocês encontros freqüentes para conversarmos sobre o nosso Vitória, nosso por ser de todos os baianos e brasileiros, por sua história de desbravador e pioneiro de tantos esportes. E nosso também porque é da gente, da galera que curte Ivete a cada conquista bonita.

Estaremos aqui, desenvolvendo a habilidade de separar em tempo o produtor de conteúdo e o torcedor, embora a fenomenologia não deixe qualquer dúvida: não podemos ser o que não somos, ou estar fora do mundo e da linguagem para falar dele Por Paulo Leandro Matéria publicada na Revista Barradão Online

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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