Ba x Vi: Os Massacres

As goleadas foram muito comuns no início da disputa dos clássicos. As mais freqüentes eram do Bahia, já que o Vitória só veio se profissionalizar em 1953. O tricolor fez a festa. Deu de 10 duas vezes , venceu outra por 9. Ganhar de 5 ou 7 era rotina. Mesmo assim, o leão não deixou de dar as suas sapecadas. Em 48, por exemplo, fez 7 a 1. 

No início dos clássicos, goleadas como essa eram frequentes. 

A partir da década de 1950, os “massacres”, como as goleadas são chamadas no mundo do futebol, passaram a ser mais raros, o que os valorizou. Desde então, com o crescimento cada vez maior da rivalidade, passaram a ser comemorados como verdadeiros títulos pelos torcedores. Motivos para gozação máxima. 

Em meados da década de 1990, os “massacres” voltaram com tudo e, para azar dos tricolores, favoráveis ao Vitória. Antes, o clássico registra apenas duas goleadas importantes: 5 a 1, em 1958, e 5 a 0, em 1986. Com o fortalecimento de suas divisões de base e contando com um aliado de peso, o Barradão, o leão fez equipes mais fortes e passou a deitar e rolar sobre o maior rival. Começou em 1994, com um 4 a 0. Em 1995, aplicou 4 a 1. Em 1996, fez 5 a 2. O ápice foi em 2005, quando, em casa, o rubro-negro fez 6 a 2, sua maior goleada em 57 anos. 

Separamos duas das maiores goleadas aplicadas por cada time para o início desta seção. A maior delas, o 10 a 1 do Bahia, em 1939, não podia faltar. Para deleite dos tricolores, disponibilizamos ainda o resumo de outra vitória por 10, um ano antes. Os rubro-negros fazem a festa com goleadas mais freqüentes, o 5 a 2, de 1996, e o 6 a 2, em fevereiro deste ano, ambas, na toca da fera, o Barradão. Saiba como foi. 

“Escore arranha-céu” 

Salvador vivia um clima de muita expectativa para o Ba-Vi do dia 28 de novembro de 1938. O jogo podia dar o título antecipado do turno para o tricolor. O Vitória estava em último lugar no Estadual e, no clássico anterior, havia levado de 9 a 4 do eterno rival. Muitos esperavam uma revanche do mordido rubro-negro. O jornal A Tarde previa um jogo difícil, e trazia o seguinte comentário em sua edição do dia da partida: 

“Líderes da tabela, os tricolores não estão seguros de vencer a porfia. Apesar da solidez de sua retaguarda e da ação produtiva de sua ofensiva, a turma do Vitória é uma ameaça terrível, capaz de tirar o título de invicto do turno. Os rubro-negros empregarão extremos esforços para vencer a jornada”. 

O leão acreditava mesmo que poderia dar o troco no rival, como está expresso nas palavras do centroavante Ciridão, o Ciri – “O Bahia é forte, tem o melhor conjunto da cidade, mas não é invencível”. 

Mas quando a bola rolou, o tricolor comprovou toda sua superioridade. É verdade que as coisas não começaram assim tão fáceis. Foi o Vitória que abriu o placar, com Mozart, logo aos seis minutos. Atiçaram a fera com vara curta e tomaram uma lavada. 

Estreante, recém contratado do Bonsucesso, Marzol foi o maestro da virada. Aos, 12, foi dele o passe para Vareta empatar. Aos 18, Marzol mesmo se encarregou de marcar o segundo. Num ritmo alucinante, o Bahia já vencia por 5 a 1 aos 38 minutos do primeiro tempo, com Pedro Amorim, Vareta e Jorge completando o placar parcial. 

No segundo tempo, o Bahia aproveitou o desespero e a apatia do rival para dobrar o escore. Nos primeiros trinta minutos, Marzol e Pedro Amorim fizeram mais dois. Manoelito diminuiu e os tricolores não gostaram. Para descontar o atrevimento do adversário, o time fez mais três tentos em apenas cinco minutos, através de Marzol, Vareta e Pedro Amorim. 

O saldo rubro-negro ao apito final do árbitro Anísio Silva era terrível. Pela primeira vez em 40 anos de vida, levava 10 gols em uma única partida. Já pelos lados do Bahia, só alegria e satisfação pela atuação de gala, um resultado que foi qualificado pela edição do jornal A Tarde de 21 de novembro de 1938 como “escore arranha-céu”.

Bahia 10 x 2 Vitória

Data: 20/11/1938
Local: Campo da Graça
Árbitro: Anísio Teixeira
Gols: Marzol (3), Vareta (3), Pedro Amorim (3) e Jorge, para o Bahia; e Manoelito (2), para o Vitória.

Bahia: Maia (Menezes); Bahiano e Tarzan (Serra); Mário Ramos, Munt e Gia; Pedro Amorim (Antenor); Marzol, Vareta (Tintas), Kuko e Jorge.

Vitória: Henriquinho; Aloísio I e Olival (Umbelino); Bengalinha, Mozart e Aloísio II; Mesquita, Manoelito, Sirim Mila e Zezé Catharino. 

O maior de todos os massacres 

Ao contrário do que aconteceu em 1938, quando o Vitória tomou 19 gols em apenas dois jogos contra o Bahia, os Ba-Vis de 1939 foram bastante disputados. Nos três clássicos do Estadual daquele, o Bahia levou a melhor em um, o Vitória em outro e houve um empate. 

Como tira-teima e de olho numa grana extra vinda da renda do clássico, os dirigentes dos clubes resolveram organizar um Ba-Vi para 8 de novembro, dia da festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia. 

Só um time considerou o jogo como amistoso, o Vitória, e se deu mal. Obstinados como se estivessem numa final de campeonato, os tricolores partiram com tudo para cima do leão e reviveram as épicas goleadas do ano anterior, quando venceu o rival por 9 a 4 e por 10 a 2. 

O primeiro tempo terminou em 3 a 1 para o esquadrão de aço, com gols de Tintas, Vareta e Nelson, sendo que Mozart fez o de honra do Vitória. O técnico rubro-negro culpou o goleiro pelo fiasco e promoveu uma troca na posição para a segunda etapa – Henriquinho entrou no lugar de Scheppi. Não adiantou.  

Aos nove minutos da etapa final, Antenor fez o quarto. Aos 22, Vareta anotou o quinto. Até os 40, o Bahia faria mais quatro gols – dois de Vareta, um de Luiz Viana e um de Nandinho. Nos acréscimos, Vareta ainda achou tempo para marcar o décimo. 

De alma lavada, a torcida tricolor saiu do Campo da Graça direto para os festejos por Nossa Senhora da Conceição, comemorando a maior goleada da história dos Ba-Vis à base de muita comida típica baiana e cerveja.

Bahia 10×1 Vitória

Data: 08/12/1939
Local: Campo da Graça
Árbitro: Anísio Silva
Gols: Vareta (5), Tintas, Luiz Viana, Nandinho, Antenor e Nélson, para o Bahia; Mozart, para o Vitória.

Bahia: Menezes; Heitor e Serra; General, Munt e Gia; Antenor, Tintas, Nélson (Nandinho), Jorge (Luiz Viana) e Dedé.

Vitória: Schepi (Henriquinho); Umbelino e Bubu (Heitor); Bengalinha, Mesquita e Zé Catharino; Mozart, Durval, Siri, Raul e Vavá Tourinho (Francisco).

A maior em 57 anos

Era para ser um Ba-Vi como outro qualquer. Cheio de rivalidade, muito disputado, com jogadas ríspidas, discussões, provocações, gols, se possível, e tudo mais que caracteriza o clássico. Afinal, o jogo não valia nada. Era apenas mais um daqueles inúmeros Ba-Vis de fase classificatória de Campeonato Baiano. O Bahia liderava o grupo dele, o Vitória idem, e ambos caminhavam firmes e fortes rumo à uma classificação tranqüila para as fases finais.

Mas o que era para ser só um entre tantos outros Ba-Vis transformou-se numa das maiores tragédias tricolores e na mais sonora goleada rubro-negra em 57 anos. Foi em 20 de fevereiro de 2005, no Barradão. 

O Vitória chegou a estabecer 6 x 1. O Bahia ainda diminuiu no finalzinho. Nada que evitasse a humilhação histórica. 

 O Vitória começou se aproveitando dos erros defensivos do Bahia e abriu o placar logo aos quatro minutos, com Alecsandro, escorando de cabeça uma cobrança de escanteio. Pouco depois, o lateral-direito Edílson, cobrando falta com extrema categoria, fez o segundo. 

Apesar dos dois gols sofridos precocemente, o tricolor mostrou forças para reagir e diminuiu, com o atacante Dill, de cabeça, aos 17 minutos. O time se animou, foi para cima, criou chances de empatar, mas o Vitória jogou um balde de água fria nos ânimos do adversário, quando, aos 32 minutos, com Gilmar, aproveitando novo vacilo defensivo.

Com 3 a 1 contrário, o Bahia voltou batido para o segundo tempo. Atordoado, o tricolor só fez assistir ao baile rubro-negro aos gritos de olé da torcida do leão. Mais gols rubro-negros pareciam precisar apenas de tempo para acontecer. Dito e feito. Aos quatro minutos, Gilmar fez 4 a 1. Claudiomiro anotou o quinto aos 11. Leandro Domingues fechou a goleada aos 32.

Apesar de não ter balançado as redes, merece uma menção honrosa o meia Zé Roberto, do Vitória. Ele foi fundamental no jogo. Com muita velocidade e movimentação, participou da grande maioria das jogas ofensivas e foi o maestro do leão.

Fernando Miguel, nos acréscimos, ainda proporcionou o último suspiro do surrado Bahia, que não era nocauteado por tantos socos desde o Ba-Vi de 2 de julho de 1948, quando caiu por 7 a 2. Já o Vitória repetiu o placar do dia 5 de setembro de 1935 e manteve o tabu de há sete anos não perder em casa para o rival.

Vitória 6×2 Bahia

Data: 20/02/205
Local: Barradão
Arbitragem: Manoel Nunes Lopo Garrido, assistido por Alessandro Mattos (Fifa) e Belmiro da Silva.
Preliminar: Vitória 0x2 Bahia (Campeonato Baiano de Juniores).

Gols: Alecsandro, aos 4min, Edilson, aos 10min, e Dill, aos 17min, e Gilmar, aos 32min do 1o tempo; Gilmar, aos 4min, Claudiomiro, aos 11min, Leandro Domingues aos 32min, e Fernando Miguel, aos 47min do 2o tempo.

Cartões amarelos: Edilson, Felipe, Xavier, Sandro, Vinicius, Fernando Miguel, Allyson, Viola e Paulinho.
Cartão vermelho: Luís Alberto, aos 27min do 2o tempo.


Vitória: Felipe; Edilson, Marcelo Heleno, Claudiomiro e Sandro; Vinícius, Xavier, Arivélton (Leandro Domingues) e Zé Roberto (Magnum); Gilmar e Alecsandro (Danilo Bueno).

Técnico: Renê Simões.

Bahia: Márcio; Paulinho (Marcos Vinícius), Neto, Alysson e Bruno; Fernando Miguel, José Magno (Luís Alberto), Cícero (Ernane) e Guaru; Dill e Viola.

Técnico: Hélio dos Anjos.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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