Fonte Nova na Copa 2014

Por Paulo Leandro
Argentina e Colômbia caíram fora. Ficou só o Brasil, que disputa sozinho a oportunidade de sediar a Copa de 2014. Peixe Romário viajou, certo da vitória. Parece que é longe, mas do jeito que a velocidade das coisas estão, 2014 está logo ali. Planejamento é a palavra-mágica da hora.

Será que a primeira capitá do Brasil vai ficar fora da festa? Em 1950, ficou. O Recife sediou jogo do Uruguai. Salvador, nada. Na época, só havia o Estádio Arthur Moraes, o Campo da Graça. A Fonte Nova, o Estádio Octavio Mangabeira, estava em construção. E a Bahia, fora.

Agora, fala-se de tudo e não se sabe de nada. Não se tem um plano de debate democrático, ouvindo todos os segmentos esportivos, a comunidade que freqüenta a Fonte, sobre o que os baianos gostariam de fazer com sua mais bela jóia da bola. Como será essa decisão?

Belíssima, a arquitetura da Fonte merece que se dê uma boa oportunidade. Enquanto isso, articula-se nos bastidores um novo estádio, uma arena na pobre da Paralela, já toda esfarelada no seu verde original. Dinheiro português estaria vindo para arregaçar a área.

Sai mais em conta botar um estádio zero em cima do que ajeitar a velha Fonte? Haja calculadora. Mas é capaz de os gravatinhas comprovarem por a+y-b= z/u que sim. A linha de partida da apuração será a linha de chegada. O que eles disserem terá perfil de verdade.

LAVADEIRAS

História, origem, pioneirismo, não estão valendo mesmo grande coisa hoje em dia. Por tudo isso, Salvador não poderia voltar a ficar fora da festa como ficou em 1950, enquanto a irmãzinha Recife curtia o gostinho de sediar um jogo da Copa do Mundo. Vamos repetir a dose?

Foi ali no Campo da Pólvora, onde vai ter estação do metrô, que tudo começou e um primeiro combinado nacional, embrião da seleção brasileira, testou um time de baianos aí por volta de 1903, em um ‘match’ organizado por Zuza Ferreira e seus amigos. Pertinho da Fonte.

O Campo da Graça é de 1920 e antes dele, os jogos eram disputados também na rua Fonte do Boi, no field do Rio Vermelho, e no Largo do Papagaio, o secular campo do Lasca. Campo é que não faltava antes de a cidade ser engolida pelas imobiliárias. Hoje, tá difícil achar um.

Para erguer a Fonte, foi preciso destruir um monte de casarão bonito, que se prof. Mary estivesse escrevendo na Tarde da época, com certeza iria dar um monte de pauta de reportagem de denúncia de descaso com patrimônio. Tudo foi abaixo na Ladeira da Fonte das Pedras.

A Fonte era Nova também por causa da fonte que atraía lavadeiras e gente pra beber água limpinha ali embaixo, defronte de onde tem umas oficinas mecânicas. Salvador era a cidade das fontes, das lavadeiras, com suas trouxas equilibradas sobre o pescoço de molas.

BADALAÇÃO

Deu problemão na reinauguração em 6 de março de 1971. Até hoje, não se explicou direito a confusão que se instalou no meio do jogo entre Vitória e Grêmio. Tinha um leitor, um rapaz do IAPI, esqueci o nome, que escreveu sobre isso, na velha seção Brado, do ATEC.

Um estádio como a Fonte era de todos os clubes, até que o Vitória se bandeou pros lados de Canabrava e a decadência chegou para os outros times baianos. Só restou o Bahia. Só, modo de dizer, porque a torcida tricolor enche a Fonte brincando, como veremos nesta Série C.

A Fonte ajuda a entender o conceito de topofilia, o amor ao lugar, que o prof. Richard fala no seu livro Sociologia do futebol, citando prof. Bailley. O adepto do futebol desenvolve este apego ao local, a familiaridade com cada detalhe do estádio, por isso chamamos de casa.

O posicionamento das traves, o tipo da rede, a estrutura do estádio, as bilheterias, tudo faz com que aquele local torne-se um prolongamento da nossa casa, como é o caso da Fonte Nova para os baianos. Mesmo os rubro-negros têm recordações do grande e imponente Mangabeirão.

A grande reforma que prof. Marcus, quando estava na Sucab, liderou, recuperou grande parte das ferragens que estavam oxidadas, mas o projeto de valorização do Dique do Tororó arrancou um pedaço da bela vista e pouca gente reparou ou fez que não viu a super-besteira.

Na forma de ferradura, que é a Fonte, a visão para o Dique era parte integrante da beleza do estádio, quer ver, confira num postal antigo, antes da construção do restaurante que tem agora no Dique. Embora não seja parte física do estádio, o Dique integrava sua bela paisagem.

Por toda a importância que tem a Fonte para os baianos, e a relevância cultural e econômica de uma Copa do Mundo, seria fundamental selecionar gente competente, por critério técnico, para levar à frente uma discussão urgente sobre o que fazer com nosso estádio, visando 2014. Militância ou badalação não é suficiente não

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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